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Lendo: A Força Aérea Zapatista aterra em Viena com Chiapas à beira da Guerra Civil

A Força Aérea Zapatista aterra em Viena com Chiapas à beira da Guerra Civil

A Força Aérea Zapatista aterra em Viena com Chiapas à beira da Guerra Civil


Cerca de 170 zapatistas chegaram a Viena, poucos dias depois do regresso ao México do Esquadrão 421. Na capital austríaca, antes de se dividirem em grupos para visitar todos os territórios da Europa e chegarem a Portugal em Novembro, participaram em vários protestos e encontros, numas boas-vindas ensombradas pelo sequestro de dois companheiros zapatistas em Chiapas. O território está à beira da guerra civil, com as comunidades zapatistas de raiz maia a enfrentarem um crescente número de agressões por parte de grupos paramilitares e do narcotráfico.

No coração da Europa Central, a 14 de Setembro de 2021, uma centena de mulheres, homens e crianças zapatistas aterraram em Viena a sexta cidade mais populosa da União Europeia. Com documentação completa e bilhete na mão, vacinas e protocolos sanitários garantidos, as zapatistas conseguiram romper o racismo transatlântico, que tudo fez para impedir esta viagem. A delegação aerotransportada A Extemporânea deve o seu nome ao racismo de um México que considera «extemporâneos» os seus povos originários e ao racismo da Europa Fortaleza que, escudada nas regulamentações sanitárias, procurou durante meses travar a entrada das zapatistas.

No aeroporto de Viena concentraram-se dezenas de colectivos de toda a Europa. Quando o primeiro grupo d’ A Extemporânea cruzou a porta das chegadas, ouviram-se aplausos, gritos de «Zapata vive, la lucha sigue!», «EZLN!», «los pueblos unidos jamás serán vencidos» e canções revolucionárias em várias línguas. No exterior do aeroporto, mulheres austríacas e migrantes deram as «boas-vindas à vossa casa» em alemão e em espanhol. Com camisa azul, chapéu, viseira de protecção sanitária e com o rosto tapado apenas por uma máscara, prescindindo pela primeira vez do lenço vermelho e do passa-montanhas, o Subcomandante Insurgente Moisés tomou o microfone para dirigir-se aos anfitriões da Europa e falar sobre a defesa da Mãe Terra. «Vai-se acabar a natureza. É isso que viemos dizer-vos. Não acreditam? Vão vê-lo», avisa. «De nome já sabemos quem é: é o capitalismo». «Os governantes não vão fazer nada, porque são cúmplices do capitalismo. Eles são os que se põem de acordo para levar a cabo a destruição. Ninguém vai lutar por nós, ninguém vai defender-nos por nós, daquilo que faz o capitalismo. Jamais. Desde os nossos tetravós, falando de 500 anos, é o que vemos. Ninguém, absolutamente ninguém, vai lutar por nós.»

O discurso recua ao primeiro do ano da insurgência zapatista. «Nós, as zapatistas e os zapatistas, estamos aqui graças às nossas companheiras e companheiros que caíram no amanhecer de 1994, quando saímos a lutar contra o mau governo. Estamos aqui graças àscompanheiras e companheiros caídos na resistência e na rebeldia. A nossa rebeldia e resistência é que nós queremos governar-nos como povos. Nós não queremos matar, nós não queremos morrer. O problema é que não nos dão a oportunidade de fazer o que nós pensamos como homens e mulheres. E é o que vimos fazendo ao longo de 28 anos: não estamos a disparar, não estamos a matar, nem queremos morrer. Queremos a Vida», expressou à Europa o porta-voz do EZLN.

No dia seguinte chegou o restante grupo de mais de 70 homens zapatistas. A escassos metros da porta das chegadas internacionais, um grupo de anfitriãs migrantes tomou a palavra: «Queridas Compas, as migrantes de língua castelhana e portuguesa na geografia de Viena saúdam-vos e dão-vos as boas-vindas! Somos um colectivo que se juntou para vos acompanhar e reunir convosco, a delegação zapatista. Queremos assegurar-nos de que a voz dos migrantes se escuta nas diferentes frentes da organização da Viagem pela Vida na Áustria. Perguntámo-nos: “Como teríamos gostado de ser recebidos quando chegámos desde o outro lado do oceano?” E respondemos que alguém nos podia ter dito as seguintes palavras: nós, os precarizados, nós, os racializados, nós que lutamos por ter uma voz migrante, nós que falamos alemão com sotaque, na geografia chamada Viena, saudamos-vos e damos-vos as boas-vindas! A nossa casa é a vossa casa.»

Os e as companheiras recém-chegadas estavam sorridentes e alegres por pisar pela primeira vez, e depois de uma longa espera, o solo europeu.

Subcomandante Moisés

Subcomandante Moisés à chegada no aeroporto de Viena. Fotografia de Isabel Mateos.

A valsa de Viena e os feminicídios na Áustria

A Fuerza Aérea Zapatista acabava de aterrar numa terra insubmissa, cuja história de dor e resistência é o verso do postal dos palácios em estilo rococó nas margens do Danúbio. Ricardo Loewe, do Comité de Solidariedade México-Salzburgo, explicou aos meios de comunicação independentes que, «junto com a Polónia e Hungria, a Áustria é um país do antigo império dos Habsburgo que hoje carrega a bandeira do racismo da Europa. É mais que triste, indignante, dá raiva, porque aqui existem reminiscências dramáticas de um fascismo que nunca desapareceu, que é vigente. E, ainda assim, estamos a receber a delegação zapatista! Não é por acaso que vêm a Viena, onde há muitos grupos que nutrem uma grande simpatia pelo zapatismo».

Para além da cripta imperial onde turistas podem visitar o túmulo de Maximiliano, ou a herança colonial do «penacho de Moctezuma que parece uma galinha morta», Loewe, de 80 anos, recorda-nos também o passado da «Viena vermelha», anterior à ditadura fascista de Dolfus; um marxismo austríaco cristalizado na Praça Friedrich Engels; mas também as lutas das mulheres e dissidências de género, o movimento okupa e a cultura da luta anarco-comunista, «pequena, mas bem-estruturada, sem partido».

um grande contingente de mulheres maias zapatistas juntou-se a uma concentração para exigir justiça para Shukri e Fadumo, duas mulheres de origem somali assassinadas dois dias antes em Viena

Ao final da tarde de quinta-feira, 16 de Setembro, pouco mais de 48 horas depois de chegarem à capital austríaca, um grande contingente de mulheres maias zapatistas juntou-se a uma concentração para exigir justiça para Shukri e Fadumo, duas mulheres de origem somali assassinadas dois dias antes em Viena. Na concentração convocada pelo colectivo Ni Una Menos-Austria, em frente à monumental igreja de Karlsplatz, as companheiras ouviram, aplaudiram e filmaram diferentes intervenções de mulheres somalis e de outros países de África, Médio Oriente, Europa e América Latina, que se expressaram nas suas diferentes línguas. Ao seu lado, centenas de jovens mulheres feministas carregavam bandeiras e cartazes contra o patriarcado e o racismo.

O toque do sino da igreja de Karlsplatz não conseguiu calar as vozes altas nem os silêncios das mulheres expressando as suas dores e a sua raiva. «Nem uma menos!», «Alerta Feminista!» e «Stoppt den femizid!». Uma vibração anti-patriarcal, anti-racista e internacionalista marcava a primeira marcha europeia da Secção Miliciana Ixchel-Ramona, no protesto contra o 21.º feminicídio que assolou a Áustria no presente ano de 2021.

Sequestros em Chiapas provocam protestos internacionais

No dia seguinte, cerca de 20 mulheres e 30 homens zapatistas reforçavam o contingente internacional que se concentrava em frente à embaixada do México, no luxuoso centro histórico vienense. À chegada na Europa, o primeiro objectivo impusera-se na denuncia ao paramilitarismo e na exigência do aparecimento com vida de dois companheiros das bases de apoio do EZLN.

José Antonio Sánchez Juárez e Sebastián Núñez Pérez, integrantes da Junta de Bom Governo Nuevo Amanecer en Resistencia y Rebeldía por la Vida y la Humanidad do Caracol 10 de nome Floreciendo la Semilla Rebelde, situado em Patria Nueva, haviam sido sequestrados a 11 de Setembro na comunidade 7 de Febrero, município de Ocosingo, Chiapas. A localidade é a sede da ORCAO, uma organização paramilitar que há vários meses tem vindo a perpetrar uma série de acções criminosas contra as Bases de Apoio do EZLN na comunidade autónoma Moisés-Gandhi.

Em frente do edifício monumental da diplomacia mexicana, e nos dias seguintes em mais de uma dezena de cidades europeias, activistas denunciaram a cumplicidade do governo federal de López Obrador, bem como de Rutilio Escandón, governador de Chiapas, nos ataques paramilitares perpetrados contra camponeses maias zapatistas, mas também contra companheiros defensores dos direitos humanos. Por fim, em comunicado do EZLN publicado a 19 de Setembro intitulado “Chiapas à Beira da Guerra Civil”, este anuncia que os esforços de ambos os lados do atlântico, aliados à intervenção de organizações de defesa dos direitos humanos e dos párocos de San Cristóbal de las Casas e de Oxchuc, haviam dado frutos. Após oito dias sequestrados, os dois companheiros foram devolvidos com vida às suas comunidades.

«O Governo de Chiapas não só encobre os bandos de narcotraficantes, como também alenta, promove e financia grupos paramilitares, como os que atacam continuamente comunidades em Aldama e Santa Marta», lê-se no comunicado, que denuncia estas acções com o objectivo de «provocar uma reacção do EZLN com o fim de destabilizar um estado cuja governabilidade pende por um fio». O comunicado termina, num tom que há muito já não se escutava da parte dos zapatistas: «Deixem já de jogar com a vida e a liberdade dos Chiapanecos. Noutra ocasião já não haverá comunicado. Ou seja, não haverá palavras, mas feitos.»

A mobilização internacional convocada pelo EZLN voltou a sair às ruas no dia 24 de Setembro, em dezenas de localidades no México, Estados Unidos, Brasil e em mais de meia centena de cidades e vilas europeias, para exigir um fim das provocações por parte dos paramilitares e dos governantes e para pôr um ponto final «no culto à morte que professam». Raúl Romero, académico da Universidade Nacional Autónoma do México que acompanha o zapatismo, dá conta do espírito vivido: «alguns dizem, com essa arrogância que acompanha a ignorância, que o zapatismo já não é apelativo, que já passou de moda, que o seu tempo se acabou. Vejam. Escutem. Está a nascer algo novo, um novo tempo, o tempo dos povos.»

Concentração

Concentração frente à embaixada do México. Fotografia de Lorena Salamanca.

Encontros na resistência a mega-projectos

Na manhã de sábado, anterior à libertação de José e Sebastián, uma delegação zapatista teve pela primeira vez um encontro público com uma resistência ao mau governo (conceito que os zapatistas usam para os governos dos de cima, por oposição às suas Juntas de Bom Governo). Neste que é um dos grandes centros da hidra capitalista, foi montado um impressionante acampamento em Lobau, nos arredores de Viena, para proteger um ecossistema raro dos planos do governo austríaco de aí construir uma auto-estrada atravessando a maior reserva natural da cidade, zona protegida desde 1978 e parte do Parque Nacional Danúbio-Auen desde 1996. Cerca de 60 homens e mulheres zapatistas encontraram-se com jovens e ambientalistas que resistem desde Agosto e que lhes contaram a história do local, o projecto e o porquê de defenderem esta que é a única paisagem do seu género que permanece ecologicamente intacta não só na cidade, mas em toda a Europa Central.

Entre intervenções e perguntas de parte a parte, discutiram-se estratégias de resistência para defender o território – falou-se de pacifismo, desobediência civil, ocupação e violência. Os activistas locais explicam que todo o movimento em Lobau é pacífico e que essa é uma condição fundamental para manter o amplo apoio da vizinhança. Embora sejam maioritariamente jovens a pernoitar no acampamento, vizinhos e vizinhas vêm colaborando e ajudando, e deixam que os jovens acampados tomem banho nas suas casas. Dão mesmo conta de um acordo com a polícia para que, caso o protesto se mantenha não-violento, esta avise os ocupantes com um dia de antecedência, na eventualidade de ser dada ordem de despejo.

Entre intervenções e perguntas de parte a parte, discutiram-se estratégias de resistência para defender o território – falou-se de pacifismo, desobediência civil, ocupação e violência.

Não imaginamos quão estranho isto será para quem vem do México, onde a violência é prato do dia e a polícia apenas mais uma força de repressão e violência gratuita. «E se vocês não saírem?», perguntam as zapatistas. Explicam que, face a uma ordem de despejo, se não aceitarem sair pelo seu próprio pé, detêm-nos por 24 horas e voltam a soltá-los, sem nenhuma acusação. Ou seja, que «não se passa nada, e voltamos a acampar». O subcomandante Moisés, surpreendido, replica desconcertado: «É como se eu te dissesse “Vou rebentar a tua mãe”, e tu dissesses “não, não o faças”, e depois eu já não o faço», perguntando-lhes de seguida se realmente esse tipo de acções tem resultados. Para já, desde que começaram as ocupações em Lobau, os trabalhos de construção estão parados.

A zona de Lobau é o que resta de um enorme ecossistema húmido que se estendia pelas margens do Danúbio, destruído no processo de terraplanagem com vista à expansão e industrialização da capital austríaca, nos finais do século XIX. Naquilo que eventualmente ajuda a explicar a referida concertação pacifista, a região guarda a memória dos protestos ocorridos neste Parque Natural em 1984, a primeira vez que a desobediência civil foi amplamente aceite como uma estratégia. O plano de uma central hidro-eléctrica culminara na ocupação do local por centenas de pessoas, travando os trabalhos. A violenta intervenção de 800 polícias, para expulsar os cerca de três mil manifestantes que permaneciam no local, provocou confrontos, feridos e uma onda de indignação em Viena, onde 40 mil pessoas se manifestaram no mesmo dia da expulsão. Temendo a eclosão de uma revolta, o governo anunciou a suspensão dos trabalhos e o Supremo Tribunal a sua proibição. A ocupação foi terminada e, meses mais tarde, o projecto definitivamente abandonado. Desde esse ano, praticamente todos os mega-projectos na Áustria são enfrentados por algum movimento popular.

A visita a Lobau termina após a visita a outros dois acampamentos mais pequenos montados no estaleiro das obras. Um grupo de mulheres zapatistas decidiu aguardar em Lobau pelo almoço para o qual tinham sido convidadas. A conversa flui num registo informal e é partilhada a história do movimento zapatista desde 1986, a preparação do levantamento de 1994 e o papel dos e das promotoras de saúde e educação, colocando-se um foco especial na participação das mulheres em todo o processo. Sem esquecer também o consumo de álcool nas comunidades, raiz de problemas tanto em contexto militar como em contexto familiar, e como, enquanto comunidades e povos, decidiram enfrentá-lo. No acampamento de Lobau, ouvimos: «as zapatistas vêm dar esperança, inspiram-nos com tudo o que já conseguiram construir em Chiapas. São uma verdadeira biblioteca andante».

feminicidios

Zapatistas em concentração contra os femícidios. Fotografia de Lorena Salamanca.

Numa varanda em Viena

Os grupos de Escuta e Palavra que compõem A Extemporânea começaram, a 22 de Setembro, a deslocar-se para as geografias que compõem a primeira zona da Viagem pela Vida – Alemanha, Escandinávia, Europa de Leste e Balcãs. Ao final da tarde desse mesmo dia, aterrou em Viena a delegação de 16 pessoas do Congresso Nacional Indígena (CNI-CIG) e da Frente de Povos em Defesa da Água e Terra (FPDTA).

Dois dias mais tarde, o CNI e a FPDTA participaram, com dezenas de zapatistas ainda presentes, na marcha da Greve Climática Mundial. Vinte mil pessoas tomaram as ruas da capital austríaca num percurso de 4 kms exigindo justiça climática, acções urgentes para combater o aquecimento global, uma mudança de sistema e apoiando à resistência contra a construção da auto-estrada em Lobau. A manifestação terminou no parlamento austríaco e, depois das intervenções da organização e da actuação de uma banda local, subiram ao palco duas companheiras que fizeram ressoar a mensagem dos povos indígenas do México. Frente à majestosa varanda onde Hitler discursou em 1938, perante centenas de milhares de pessoas, consumando a anexação nazi, Libertad, uma companheira zapatista, contou a história de uma mulher:

«Não importa a cor da sua pele, porque tem todas as cores. Não importa o seu idioma, porque escuta todas as línguas. Não importa a sua raça e a sua cultura, porque nela habitam todos os modos. Não importa o seu tamanho, porque é grande e, ainda assim, cabe numa mão. Todos os dias e a todas as horas, essa mulher é violentada, golpeada, ferida, violada, burlada, desprezada. Um macho exerce sobre ela o seu poder, todos os dias e a todas horas. Ela vem até nós, mostra-nos as suas feridas, as suas dores, as suas tristezas, e só lhe damos palavras de consolo, de pena, ou ignoramo-la. Talvez, como esmola, lhe dêmos algo para que cure as suas feridas, mas o macho continua a sua violência.

Nós e vocês sabemos em que é que termina isto. Ela será assassinada e, com a sua morte, morrerá tudo. Podemos continuar a dar-lhe palavras de alento e remédios para os seus males. Ou podemos dizer-lhe a verdade: o único medicamento que poderá curá-la e saná-la por completo é enfrentar e destruir quem a violenta. E podemos também, e em consequência, unir-nos a ela e lutar a seu lado.
A essa mulher, nós, os povos zapatistas, chamamos-lhe “Mãe Terra”. Ao macho que a oprime e a humilha, ponham-lhe o nome, o rosto e a forma que quuiserem. Nós, os povos zapatistas, chamamos a esse macho assassino por um nome: capitalismo.

E chegámos a esta geografia para vos perguntar: vamos continuar a pensar que com pomadas e calmantes se solucionam os golpes de hoje, ainda que saibamos que amanhã será maior e mais profunda a ferida? Ou vamos lutar juntos com ela?

Nós, as comunidades zapatistas, decidimos lutar junto a ela, por ela e para ela.»

acampamento

Encontro no acampamento de Lobau. Fotografia de Lorena Salamanca.

É, então, a vez de Isabel, uma mulher otomi do Congresso Nacional Indígena, tomar a palavra:

«Hoje estamos a ver que, os que vivemos na cidade, não temos direito a ela e, aos que estamos nas nossas aldeias, nos despojam. Temos aí muitas empresas que nos vêm enganando sobre o que é progresso, temos a termoeléctrica, o comboio maya, parque eólicos, os pais de ayotzinapa, e os agroquímicos que aqui, em países desenvolvidos, já não se vendem, pelo que os levam para os nossos povos para matar-nos a todas e a todos.

Hoje estamos aqui todos os povos do outro lado do mundo para caminhar juntas e juntos. Por isso nós, como Conselho Indígena de Governo, estamos a caminhar junto com as nossas irmãs e irmãos zapatistas. Esta é uma Viagem pela Vida porque, se se acaba a Mãe Terra, se a matamos entre todas e entre todos, vamos acabar junto com ela, vamos morrer junto com ela. E daqui lhes dizemos, ao capitalismo e ao patriarcado, que a única coisa que queremos é a nossa autonomia, as nossas aldeias, as nossas águas livres de contaminação. Não queremos mais capitalismo, não queremos mais empresas. E também lhes dizemos que não esquecemos, não capitulamos, e até à vitória… Zapata vive!».

A multidão responde: «La lucha sigue!»

Ao contrário do discurso de Hitler, estes dois discursos não irão aparecer nos livros de história. Mas cumprem o papel de, através da escuta e da palavra, semear essa resistência e essa rebeldia que é o principal objectivo desta Viagem pela Vida.

Durante estes dias, à porta fechada, as zapatistas, o CNI e a FPDTA realizaram diversos encontros de Escuta e Palavra com mulheres migrantes de línguas portuguesa e castelhana, com mulheres palestinianas e com várias outras comunidades e lutas em Viena, para tratar dos assuntos que trazem à Europa estes povos indígenas.

 


Partes deste artigo têm por base os trabalhos colectivos dos Medios Libres en Viena e publicadas originalmente em castelhano e em português na RadioZapatista.org, Pozol.org e Guilhotina.info

Fotografia [em destaque] de Amehd Coca


Artigo publicado no JornalMapa, edição #32, Outubro|Dezembro 2021.


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Written by

Francisco Norega

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