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Lendo: STOP MÉGA-BASSINES: o desarme do fascismo faz-se lutando pela Terra

STOP MÉGA-BASSINES: o desarme do fascismo faz-se lutando pela Terra

STOP MÉGA-BASSINES: o desarme do fascismo faz-se lutando pela Terra


Os dias 16 a 21 de julho foram os escolhidos por Soulèvements de la Terre (Insurreições da Terra) para lutar por um mundo mais ecologicamente são. O encontro assinalou-se, mais uma vez, em Poitou, região francesa altamente marcada por megaprojetos industriais conduzidos pela ganância capitalista de empresas privadas.

Insurreições da Terra é um movimento de resistência, que luta por uma redistribuição de terras mais equitativa e ecologicamente conscientizada. Como grupo maioritariamente composto por jovens preocupados com o futuro de precariedade socioecológica que se lhes adivinha, organizam-se em redes coletivas de cuidado com a Terra e com os seres vivos, humanos e não humanos. Marcam presença em e organizam inúmeros encontros de lutas de resistência onde, através de ações diretas não violentas e outras estratégias, criam oportunidade para qualquer pessoa, com vontade de combater o racismo, o sexismo, o  catastrofismo climático e a repressão estatal e policial, tecer redes e juntar-se ao movimento.

O encontro de julho, de nome STOP MÉGA-BASSINES (Stop Megabacias), contou com 3 atos. Entre 16 e 21, instalou-se, em Melle, a Village L’Eau (Aldeia da Água), um espaço pensado para fomentar debates, treinos ativistas, momentos conviviais e culturais. Enquanto as atividades preparadas se focaram nos diversos conflitos decorrentes do uso e apropriação de água existentes em todo o mundo, o espaço físico onde as mesmas decorriam proporcionou a oportunidade de entender melhor as lutas camponesas e
ecológicas da região e serviu de preparação para a segundo ato da semana: uma marcha popular em Saint Sauvant por uma moratória imediata no projeto da construção de uma megabacia na zona.

Marcha popular por Sant Sauvant (STOP MEGÁ-BASSINES | CANAL INFORMATIONS GENÉRALES).

A marcha contou com cerca de 10 000 pessoas que,caminhando ou pedalando, ocuparam os campos franceses, marcando a sua posição contra as forças neoliberais que saqueiam a biodiversidade e o bem-estar de populações desprivilegiadas de poder e capital. Uma das vitórias deste ato foi o desarmamento da bacia de Pampr’ouef. Um grupo de ciclistas que conseguiu ultrapassar a barreira policial que protegia a bacia lançou papagaios de papel carregados de plantas aquáticas que, em contacto com a água estagnada da bacia, crescerão e entupirão os tubos necessários para o funcionamento da bacia.

O terceiro ato da semana mobilizou os ativistas da aldeia até à cidade atlântica de La Rochelle, onde se localiza o porto de La Pallice, o segundo maior porto do país no que toca a exportações de cereais. Na iminência de um projeto de expansão do porto, previsto para 2025, a conexão com o aumento de projetos de megabacias na região torna-se evidente, dada a cultura intensiva de milho e trigo em Deux-Sèvres.

Ou seja, é através da privatização e mercantilização da água por privados, nos projetos das megabacias, que o porto de La Pallice se alimenta, contribuindo, assim, para a perpetuação de um sistema capitalista destrutivo centrado na acumulação de riqueza, pondo em risco a resposta às necessidades básicas de humanos e do mundo para lá deste. Apesar de o dia ter sido marcado pela forte repressão policial sentida pelas manifestantes, um grupo de camponeses e ativistas conseguiu, pela madrugada, bloquear, por momentos, a entrada no porto, interrompendo o seu normal funcionamento.

A semana fica não só marcada por diversos momentos de aprendizagem, camaradagem, diversão e resistência como também por momentos de elevada repressão policial e violência, por parte das forças de ordem francesas – desde entradas para o acampamento bloqueadas por agentes policiais e pelas suas carrinhas (bloqueios nos quais eram confiscados quaisquer materiais que pudessem ser utilizados para proteção dos manifestantes em Saint-La Rochell, até helicópteros e drones com aparelhos de reconhecimento facial constantemente presentes no acampamento. Além disso, a polícia francesa não desperdiçou a oportunidade para dar uso a armas químicas, como o gás lacrimogéneo (sendo, inclusive, responsável por um incêndio durante o segundo ato da semana), e para praticar táticas de repressão violentas, como o cerco do início e do final de um bloco de manifestantes que ficaram, assim, encurraladas, durante os momentos de manifestação da semana.

Bloqueio do porto de La Pallice por camponeses apoiantes da manifestação (STOP MEGÁ-BASSINES | CANAL INFORMATIONS GENÉRALES).

Num momento histórico de combate ao neoliberalismo e ao fascismo de direita, que a ele vem associado, importante para a França, e para o mundo, Soulèvements de la Terre desempenha um papel crucial. O seu esforço para construir redes e alianças antifascistas, feministas, anticoloniais e anticapacitistas e para explorar diversas estratégias de resistência coletiva potencia o estabelecimento de um movimento solidário e de cuidados fundamentais na luta contra a repressão. O desarmamento do fascismo faz-se criando contrapoder popular, ressignificando a nossa conexão com a terra e apoiando-nos – trabalhadores, estudantes e camponeses – mutuamente.

Faz-se também lembrando-nos de que enquanto a máquina capitalista escavapara construir megabacias, os protetores dos ecossistemas plantam milhares de sementes de solidariedade e de resistência que crescerão e surgirão da terra para defendê-la. Junta-te, tu também, à insurreição!

 


Referências:

«SAISON 7 : DÉTRICOTER LES FILIÈRES MORTIFÈRES». LES SOULÈVEMENTS DE LA TERRE.

«19-20 JUILLET : MOBILISATION INTERNATIONALE STOP MÉGA-BASSINES – VILLAGE DE L’EAU DU 16 AU 21 JUILLET». LES SOULÈVEMENTS DE LA TERRE.


Texto de  Uri
Imagens retiradas do canal de Telegram STOP MEGÁ-BASSINES | CANAL INFORMATIONS GENÉRALES


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Jornal Mapa

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