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Lendo: Confluência pela Agroecologia

Confluência pela Agroecologia

Confluência pela Agroecologia


No passado dia 20 de abril, o jornal Mapa juntou-se à confluência pela Agroecologia, em Torres Vedras. O mote, dado pelo GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, pela associação Terra Sintrópica e pelo Instituto Politécnico de Viseu, foi lançar a semente de uma rede nacional agroecológica, com a ajuda dos professores Clara Nichols e Miguel Altieri. 

O encontro, organizado por um grupo de ativistas e investigadores comprometid@s, reuniu mais de 200 pessoas de vários pontos do país, muitas delas agricultoras, dinamizadoras sociais, ativistas ou académicas. Respondendo ao desafio da organização do evento de criar um mapeamento coletivo das várias experiências agroecológicas no território português, o objetivo do encontro, que aconteceu no Centro Ambiental de Torres Vedras, foi a sistematização de projetos e iniciativas já em curso. Divididos por núcleos regionais, pequenos grupos trabalharam a partir de uma proposta estruturada de mapeamento dinâmico, identificando elementos-chave nas suas regiões, potencialidades e desafios. Longe de pretender um mapeamento exaustivo, o encontro serviu como ferramenta de reflexão para a criação de uma rede agroecológica nacional. 

Confluência pela Agroecologia

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Após a experiência de reflexão sobre o que já existe em Portugal, Nichols e Altieri falaram da sua experiência ao longo dos anos, desde que se formaram como agrónomos nos anos 80 na América Latina, e sobre as resistências que encontraram dentro da academia e outras instituições. Professores em Berkeley (CA, EUA), de nacionalidades chilena e colombiana, são uma referência mundial nesta área de conhecimento, que definem como a combinação do conhecimento científico contemporâneo com o conhecimento milenar camponês, de modo a criar sistemas de produção sustentáveis que melhorem e protejam os ecossistemas. Defendem ainda a agroecologia como um movimento que não dissocia os modos de produção agrícola das condições económicas, sociais ou culturais que lhes são inerentes. 

De facto, como sublinhou o casal de Professores, o movimento pela agroecologia na América Latina começou debaixo, pela mão de camponeses, sem qualquer apoio estatal ou institucional, até se tornar, hoje em dia, no paradigma que a própria FAO (Food and Agriculture Organization) apresenta nos seus documentos. Neste processo, que Altieri descreve como uma cooptação, o apelo da agroecologia cresceu em popularidade e credibilidade.
Entre as várias ideias e experiências partilhadas, Altieri destacou a importância da soberania alimentar nos projetos que visitou em Portugal, independentemente dos seus modelos agrícolas. Segundo o que disse à assistência, é possível observar como funcionam os princípios agroecológicos nos projetos, independentemente de estes praticarem agricultura biodinâmica, permacultura, agricultura regenerativa ou sintrópica. Perante esta diversidade de chapéus/práticas, bem representadas no encontro, a agroecologia pode ser, sugeriu Altieri, o conjunto de princípios políticos que une as diferentes escolas de produção agrícola.

Clara Nichols explicou-nos que a primeira rede por eles começada, a SOCLA, Sociedad Científica Latinoamericana de Agroecología (https://soclaglobal.com/), começou junto d@s agricultores, que eram quem estava a produzir alimentos de modo sustentável, muitas vezes encontrando soluções para as crises de abastecimento e alterações climáticas, de modo a que estes pudessem estar em contacto com investigadores, fazendo assim com que as suas boas práticas se disseminassem.
Nichols também mencionou a importância da identidade cultural dos territórios agroecológicos, frisando como é importante o orgulho na ruralidade e nas manifestações culturais próprias de cada região. Uma vez que a educação dada no campo é uma educação das cidades, é importante combater a falta de valor e autorreconhecimento, relembrando as populações rurais e urbanas da importância dos sistemas alimentares sustentáveis. Relembrando que há vida nas tuas vilas porque os teus agricultores não usam agrotóxicos. Há vida nos teus bairros porque os teus agricultores trazem polinizadores. Há vida nas tuas cidades porque os teus agricultores produzem alimentos saudáveis e mantêm as águas limpas, promovendo assim uma melhoria incalculável na saúde pública.

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Como não podia deixar de ser, a discussão das alterações climáticas serviu para reforçar a necessidade desta rede nacional agroecológica que se vai tentar formar em Portugal. Do encontro saíram já propostas concretas que serão postas em prática ao longo do próximo ano, de forma colaborativa. Será através da identificação dos perigos globais, da partilha de experiências de sucesso e da união nas causas comuns que se poderá desenhar uma ação coletiva de proteção ecológica e resiliência perante as crises que se adivinham.

 


Texto de  Margarida Lima [m.lima@jornalmapa.pt] e  Sandra Faustino [sandra.faustino@jornalmapa.pt]
Fotografias de Outros Ângulos


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