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Lendo: Guerra na Ucrânia: Dez Lições da Síria

Guerra na Ucrânia: Dez Lições da Síria

Guerra na Ucrânia: Dez Lições da Síria


Exilados sírios falam sobre como a sua experiência pode inspirar a resistência à invasão

Em Março de 2011, eclodiram protestos na Síria contra o ditador Bashar al-Assad. Assad virou todo o poder dos militares contra o movimento revolucionário subsequente; no entanto, durante algum tempo, parecia possível conseguir derrubar o seu governo. Depois, Vladimir Putin interveio, permitindo a Assad permanecer no poder com um tremendo custo em vidas humanas e assegurando uma posição para o poder russo na região. No texto que se segue um coletivo de exilados sírios e seus companheiros pensam em como as suas experiências na Revolução Síria podem informar os esforços para apoiar a resistência à invasão na Ucrânia e o movimento antiguerra na Rússia.

Tanta atenção tem sido focada na Ucrânia e na Rússia neste ultimo mês que é fácil perder a noção do contexto global desses eventos. O texto que se segue oferece uma reflexão valiosa sobre o imperialismo, a solidariedade internacional e a compreensão das nuances de lutas complexas e contraditórias.

Assinado pelo colectivo The Syrian Canteen of Montreuil e L’équipe des Peuples Veulente, originalmente publicado em CrimethInc.com, encontrando-se aqui ligeiramente reduzido e adaptado para português de Portugal. O texto completo pode ser lido completo em Português do Brasil em: https://pt.crimethinc.com/2022/03/07/war-in-ukraine-ten-lessons-from-syria-syrian-exiles-on-how-their-experience-can-inform-resistance-to-the-invasion

Dez Lições da Síria

Sabemos que pode ser difícil posicionar-se num momento como esse. Entre a unanimidade ideológica dos grandes meios de comunicação e as vozes que transmitem sem escrúpulos a propaganda do Kremlin, pode ser difícil saber a quem dar ouvidos. Entre uma NATO de mãos sujas e um regime russo vil, já não sabemos contra quem lutar, quem apoiar.

Como participantes e amigos da revolução síria, queremos defender uma terceira opção, oferecendo um ponto de vista baseado nas lições de mais de dez anos de revolta e guerra na Síria.

Deixemo-lo claro desde logo: hoje ainda defendemos a revolta na Síria, como revolta popular, democrática e emancipatória que foi, principalmente os comités de coordenação e os conselhos locais da revolução. Embora muitos se tenham esquecido de tudo isso, sustentamos que nem as atrocidades e propaganda de Bashar al-Assad, nem as dos jihadistas, podem silenciar essa voz.

1. Ouçamos as vozes das pessoas imediatamente impactadas pelos eventos.

Em vez de especialistas em geopolítica, devemos ouvir as vozes daqueles que viveram a revolução em 2014 e viveram a guerra; devemos ouvir aqueles que têm sofrido sob o governo de Putin na Rússia e noutros lugares ao longo de vinte anos. Convidamos-te a favorecer as vozes e as organizações que defendem os princípios da democracia direta, o feminismo e o igualitarismo dentro desse contexto. Compreender a sua posição na Ucrânia e as suas exigências para os que estão fora dela irá ajudar-te a chegar à tua própria opinião informada.

Ter aplicado essa abordagem à Síria teria elevado – e talvez apoiado – as impressionantes e promissoras experiências de auto-organização que floresceram por todo o país. Além disso, ouvir as vozes quem vêm da Ucrânia lembra-nos que todas essas tensões começaram com a revolta de Maidan. Por mais imperfeito ou “impuro” que ela tenha sido, não cometamos o erro de reduzir a revolta popular ucraniana a um conflito de interesses entre grandes potências, como alguns fizeram intencionalmente para obscurecer a revolução síria.

2: Cuidado com a geopolítica de tasca.

É certamente desejável compreender os interesses econômicos, diplomáticos e militares das grandes potências; ainda assim, contentar-se com um enquadramento geopolítico abstrato da situação pode deixar-nos com uma compreensão abstrata e desligada do terreno. Essa forma de compreensão tende a ocultar as protagonistas comuns do conflito, aquelas que se assemelham a nós, aqueles com os quais podemos nos identificar. Acima de tudo, não esqueçamos: o que facto se irá passar é que as pessoas sofrerão por causa das escolhas de governantes que vêem o mundo como um tabuleiro de xadrez, como um reservatório de recursos a serem saqueados. É assim que os opressores veem o mundo. Isso nunca deve ser adotado pelos povos, que devem concentrar-se em construir pontes entre si, em encontrar interesses comuns.

Isso não significa que devamos negligenciar a estratégia, mas significa criar estratégias nos nossos próprios termos, a uma escala na qual possamos agir nós mesmas – não discutir se devemos mover divisões de tanques ou cortar as importações de gás.

3: Não aceitemos qualquer distinção entre exilados “bons” e “maus”.

Vamos ser claros: longe de ser o ideal, a receção de refugiados sírios na Europa foi muitas vezes mais acolhedora do que a receção oferecida a refugiados da África Subsaariana, por exemplo. As imagens de refugiados negros rejeitados na fronteira Ucrânia-Polónia e os comentários nos meios de comunicação corporativa que privilegiam a chegada de refugiados ucranianos de “alta qualidade” em detrimento de bárbaros sírios são a prova de um racismo europeu cada vez mais desinibido. Defendemos o acolhimento incondicional dos ucranianos que fogem dos horrores da guerra, mas recusamos qualquer hierarquia entre os refugiados.

4: Desconfiemosdos meios de comunicação corporativos.

Se, como na Síria, estes fingem defender uma agenda humanista e progressista, a maioria desses veículos tende a limitar-se a um retrato que vitimiza e despolitiza os ucranianos no terreno e no exílio. Eles só terão a oportunidade de falar sobre casos individuais, pessoas em fuga, medo de bombas e afins. Isso impede que os espectadores entendam os ucranianos como atores políticos de pleno direito, capazes de expressar opiniões ou análises políticas sobre a situação do seu próprio país. Além disso, esses meios de comunicação tendem a promover uma posição descaradamente pró-ocidente, sem nuances, profundidade histórica ou investigação sobre os interesses dos governos ocidentais, que são apresentados como defensores do bem, da liberdade e de uma democracia liberal idealizada.

O olhar dos retratos de Putin e Assad, à medida que soldados armados patrulham as ruínas da Síria

O olhar dos retratos de Putin e Assad, à medida que soldados armados patrulham as ruínas da Síria.

5. Não retratemos os países ocidentais como o eixo do bem.

Mesmo que não invadam diretamente a Ucrânia, não sejamos ingénuos em relação à OTAN e aos países ocidentais. Devemo-nos recusar a apresentá-los como os defensores do “mundo livre”. Lembre-se, o Ocidente construiu o seu poder sobre o colonialismo, o imperialismo, a opressão e a pilhagem da riqueza de centenas de povos ao redor do mundo – e continua todos esses processos nos dias de hoje.

Para falar apenas do século XXI, não nos esqueçamos dos desastres infligidos pelas invasões do Iraque e do Afeganistão. Mais recentemente, durante as revoluções árabes de 2011, em vez de apoiar as correntes democráticas e progressistas, o Ocidente preocupou-se principalmente em manter a sua dominação e os seus interesses económicos. Ao mesmo tempo, continua a vender armas e a manter relações privilegiadas com ditaduras árabes e monarquias do Golfo. Com a sua intervenção na Líbia, a França acrescentou a mentira vergonhosa de uma guerra por razões económicas disfarçada como um esforço para apoiar a luta pela democracia.

Além desse papel internacional, a situação nesses países continua a deteriorar-se à medida que o autoritarismo, a vigilância, a desigualdade e, acima de tudo, o racismo continuam a intensificar-se.

Hoje, se acreditamos que o regime de Putin representa uma ameaça maior à autodeterminação dos povos, não é porque os países ocidentais de repente se tornaram “bonzinhos”, mas porque as potências ocidentais já não têm mais tantos meios para manter a sua dominação e hegemonia. E continuamos a suspeitar dessa hipótese – porque se Putin for derrotado pelos países ocidentais, isso irá contribuir para conferir-lhes mais poder.
Portanto, aconselhamos os ucranianos a não contarem com a “comunidade internacional” ou com as Nações Unidas – que, como na Síria, demonstram uma evidente hipocrisia e tendem a aliciar as pessoas a acreditar em quimeras.

6: Lutemos contra todos os imperialismos!

Campismo” é a palavra que usamos para descrever uma doutrina de outra época. Durante a Guerra Fria, os adeptos desse dogma sustentavam que o mais importante era apoiar a URSS a todo custo contra os estados capitalistas e imperialistas. Essa doutrina ainda persiste na fação da esquerda radical que apoia a Rússia de Putin na invasão da Ucrânia ou que relativiza a guerra em curso. Como fizeram na Síria, usam o pretexto de que o regime russo ou sírio encarnam a luta contra o imperialismo ocidental e “atlanticista” [isto é, pró-NATO]. Infelizmente, esse anti-imperialismo maniqueísta, que é puramente abstrato, recusa-se a ver o imperialismo em qualquer ator que não seja o Ocidente.

No entanto, é necessário reconhecer o que os regimes russo, chinês e até iraniano têm feito há anos para cá. Têm estendido a sua dominação política e económica em certas regiões, alienando as populações locais da sua autodeterminação. Deixemos que os “campistas” usem a palavra que quiserem para descrevê-lo, se “imperialismo” lhes parece inadequado, mas nunca aceitaremos qualquer desculpa para infligir violência e dominação sobre populações em nome de uma precisão pseudo-teórica.

Pior ainda, tal posição leva essa “esquerda” a reproduzir a propaganda desses regimes a ponto de negar atrocidades bem documentadas. Falam de “golpe de estado” quando descrevem a revolta de Maidan ou negam os crimes de guerra perpetrados pelo exército russo na Síria. Essa esquerda chegou ao ponto de negar o uso de gás sarin pelo regime de Assad.

7: Não atribuamos o mesmo grau de responsabilidade à Ucrânia e à Rússia.

Na Ucrânia a identidade do agressor é conhecida por todos. Se a ofensiva de Putin é, de certa forma, uma resposta à pressão da NATO, é sobretudo a continuação de uma ofensiva imperial e contrarrevolucionária. Depois de invadir a Crimeia, depois de ter ajudado a esmagar as revoltas na Síria (2015-2022), Bielorrússia (2020) e Cazaquistão (2022), Vladimir Putin já não tolera o atual clima de protestos – encarnado pelo derrube do presidente pró-Rússia na revolta Maidan – dentro dos países sob sua influência. Ele deseja esmagar qualquer desejo emancipatório que possa enfraquecer seu poder.

Também na Síria não há dúvidas sobre quem é o responsável direto pela guerra. O regime sírio de Bashar al-Assad, ao ordenar à polícia que atirasse, prendesse e torturasse os manifestantes desde os primeiros dias de protesto, optou unilateralmente por iniciar uma guerra contra a população. Gostaríamos que aqueles que defendem a liberdade e a igualdade fossem unânimes ao se posicionarem contra tais ditadores que declaram guerras contra o povo. Gostaríamos que esse tivesse sido o caso em relação à Síria.

Se entendemos e nos juntamos ao apelo para acabar com a guerra, insistimos que devemos fazê-lo sem qualquer ambiguidade quanto à identidade do agressor. Nem na Ucrânia, nem na Síria, nem em qualquer outro lugar do mundo, as pessoas comuns podem ser culpadas por empunharem armas para tentar defender as suas próprias vidas e as das suas famílias.

De um modo mais geral, aconselhamos as pessoas que não sabem o que é uma ditadura (mesmo que os países ocidentais se estejam a tornar mais abertamente autoritários) ou o que é ser bombardeado a absterem-se de dizer aos ucranianos para não pedirem ajuda ao Ocidente — como alguns disseram aos sírios ou Hong Kong — ou não desejarem uma democracia liberal ou representativa como sistema político mínimo. Muitas dessas pessoas já estão cientes das imperfeições desses sistemas políticos — mas a sua prioridade não é manter uma posição política impecável, mas sim sobreviver aos bombardeios do dia seguinte, ou não acabar num país em que uma palavra descuidada pode condená-lo vinte anos na prisão. Insistir nesse tipo de discurso purista demonstra a determinação de impor a sua análise teórica num contexto que não é o seu.

Em vez disso, vamos ouvir as palavras dos camaradas ucranianos que disseram, citando Mikhail Bakunin: “Acreditamos firmemente que a república mais imperfeita é mil vezes melhor do que a monarquia mais esclarecida”.

8: Compreendamos que a sociedade ucraniana, como na Síria e na França, é atravessada por diferentes correntes.

Estamos familiarizados com o procedimento em que um governante designa uma ameaça séria para afugentar potenciais apoiantes. Isso inclui a retórica sobre “terrorismo islâmico” que Bashar al-Assad usou desde os primeiros dias da revolução na Síria; da mesma forma, hoje Putin e seus aliados brandem o “nazismo” e o “ultranacionalismo” para justificar sua invasão da Ucrânia.

Se, por um lado, reconhecemos que essa propaganda é deliberadamente exagerada e que não devemos legitimá-la sem questionamento, por outro, a nossa experiência na Síria incita-nos a não subestimar as correntes reacionárias dentro dos movimentos populares.

Na Ucrânia, nacionalistas ucranianos, incluindo fascistas, desempenharam um papel importante nos protestos de Maidan e na guerra que se seguiu contra a Rússia. Além disso, como o Batalhão Azov, eles beneficiaram dessa experiência e tornaram-se parte legítima do exército regular da Ucrânia. No entanto, isso não significa que a maioria da sociedade ucraniana seja ultranacionalista ou fascista. A extrema-direita obteve apenas 4% dos votos nas últimas eleições; o presidente ucraniano, judeu e de língua russa foi eleito por 73%.

Na revolta na Síria, os jihadistas começaram como atores marginais, mas ganharam importância crescente, em parte graças ao apoio externo, permitindo-lhes impor-se militarmente em detrimento do movimento civil e dos participantes mais progressistas. Em toda parte, a extrema-direita ameaça a expansão das democracias e das revoluções sociais; tal acontece hoje na França, sem dúvida. Na França, essa mesma extrema-direita tentou se impor durante o movimento dos Coletes Amarelos. Se ela foi derrotada naquele momento, foi por causa da presença de posições igualitárias e da determinação de ativistas antiautoritários e antifascistas, não pelo tagarelar de sábios.

Tenha em consideração que defender a resistência popular (tanto na Ucrânia quanto na Rússia) contra a invasão russa também não deve significar ser ingênuo em relação ao regime político que emergiu de Maidan. Não se pode dizer que a queda de Yanukovych tenha resultdo em numa expansão real da democracia direta ou no desenvolvimento da sociedade igualitária que desejamos para a Síria, para a Rússia, para a França e para todo o mundo.

Usando uma expressão que nos é bem conhecida, alguns ativistas ucranianos chamam o pós-Maidan de “revolução roubada”. Além de conceder um lugar importante aos ultranacionalistas, o regime ucraniano foi restabelecido por oligarcas e outros que se preocupavam em defender os seus próprios interesses económicos e políticos e estender um modelo capitalista e neoliberal de desigualdade.

Um regime neoliberal e elementos fascistas são ingredientes encontrados em todas as democracias ocidentais. Embora esses oponentes da emancipação não devam ser subestimados, isso não é motivo para não defender a resistência popular a uma invasão. Pelo contrário, como gostaríamos que outros tivessem feito durante a revolução síria, pedimo-vosque apoiem as correntes auto-organizadas mais progressistas dentro dessa defesa.

9. Apoiemos a resistência popular na Ucrânia e na Rússia.

Como as revoluções árabes, os Coletes Amarelos e os Maidan provaram, as revoltas do século XXI não serão ideologicamente “puras”. Embora entendamos que é mais confortável e estimulante identificar-se com atores poderosos (e vitoriosos), não devemos trair os nossos princípios fundamentais. Convidamos a esquerda radical a tirar os seus velhos óculos conceituais para confrontar as suas posições teóricas com a realidade. Essas posições devem ser ajustadas de acordo com a realidade, e não o contrário.

É por essas razões que, a respeito da Ucrânia, pedimos que as pessoas priorizem as iniciativas de apoio que vêm da base: as iniciativas de autodefesa e de auto-organização que florescem atualmente. Podemos descobrir que, muitas vezes, as pessoas que se organizam defendem, de facto, conceções radicais de democracia e de justiça social – mesmo que não se chamem de “esquerdistas” ou “progressistas”.

Além disso, como muitos ativistas russos disseram, acreditamos que uma revolta popular na Rússia poderia ajudar a acabar com a guerra, tal como em 1905 e 1917. Quando consideramos a extensão da repressão na Rússia desde o início da guerra – mais de dez mil manifestantes presos, censura dos meios de comunicação, bloqueio de redes sociais e talvez em breve a internet – é impossível não esperar que uma revolução possa levar à queda do regime. Isso acabaria, de uma vez por todas, com os crimes de Putin na Rússia, na Ucrânia, na Síria e noutros lugares.

Este é também o caso da Síria, onde, após a internacionalização do conflito, longe de ficarmos ressentidos com os povos iraniano, russo ou libanês, as revoltas desses povos podem fazer-nos acreditar novamente na possibilidade de que Bashar al-Assad também caia.

Da mesma forma, queremos ver convulsões radicais e extensões radicais da democracia, justiça e igualdade nos Estados Unidos, na França e em todos os outros países que baseiam o seu poder na opressão de outros povos ou de parte de sua própria população.

10. Construamos um novo internacionalismo a partir de baixo.

Embora nos oponhamos radicalmente a todos os imperialismos e a todas as formas modernas de fascismo, acreditamos que não podemos limitarmo-nos apenas a posturas anti-imperialistas ou antifascistas. Mesmo que sirvam para explicar muitos contextos, também correm o risco de limitar a luta revolucionária a uma visão negativa, reduzindo-a à reação, à resistência permanente sem caminho a seguir.

Faixa-na-cidade-síria-de-Kafranbel

Faixa na cidade síria de Kafranbel.

Acreditamos que continua a ser essencial fazer uma proposta positiva e construtiva como o internacionalismo. Isso significa vincular revoltas e lutas pela igualdade em todo o mundo.

Existe uma terceira opção existe além da NATO e de Putin: o internacionalismo de baixo para cima. Hoje, um internacionalismo revolucionário deve convocar as pessoas de todo o mundo para defender a resistência popular na Ucrânia, assim como convocá-las para apoiar os conselhos locais sírios, os comités de resistência no Sudão, as assembleias territoriais no Chile, as rotundas dos Coletes Amarelos e a intifada palestina.

Enquanto esperamos o surgimento de novas organizações revolucionárias baseadas em iniciativas auto-organizadas locais, defendemos um internacionalismo que apoie as revoltas populares e acolha todas as pessoas exiladas. Também nesse sentido estamos a preparar o terreno para um verdadeiro retorno ao internacionalismo, que, esperamos, um dia voltará a representar um caminho alternativo distinto dos modelos das democracias capitalistas ocidentais e do autoritarismo capitalista, seja russo ou chinês.

Tal conceção do que estávamos a fazer na Síria teria certamente ajudado a revolução a manter uma cor democrática e igualitária. Quem sabe, teria até contribuído para que alcançássemos a vitória. Portanto, somos internacionalistas não apenas por uma questão de princípio ético, mas também como consequência de uma estratégia revolucionária. Defendemos, portanto, a necessidade de criar vínculos e alianças entre forças auto-organizadas que trabalham pela emancipação de todas as pessoas, sem distinção.

Isso é o que chamamos de internacionalismo de baixo, o internacionalismo dos povos.


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Jornal Mapa

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