
Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: Censura à moda do Porto
Nos passados dias 11, 12 e 13 de Junho, decorreu no Porto o Desentoca, um encontro aberto de espaços autónomos da cidade realizado para «redescobrir o prazer de sair de casa, estar com gente companheira, recomeçar as construções que foram paradas, criar novas redes de desobediência e apoio mútuo», de acordo com o seu texto de apresentação.
As actividades passaram por conversas na Livraria Maldatesta, cinema na Associação Cochiló, pintura de murais no Pintalhão e acabou com concertos no Espaço Musas. Para pintura do muro do Pintalhão, tinha sido lançado um apelo a artistas que quisessem «problematizar as questões de gentrificação, racismo e liberdade num território de periferia pobre que se prepara para ser mais um foco da fúria imobiliária. De acordo com o comunicado da organização, esse desafio resultou em «cinco obras para usufruto e questionamento locais».
Entretanto, terá havido uma queixa e a PSP, ainda enquanto se procedia às pinturas, apressou-se a aparecer, «identificou uma ou duas pessoas, mas, na falta de base legal, foi-se embora sem causar mais problemas». No entanto, ao fim do terceiro dia de exposição, «alguém decidiu substituir duas das cinco pinturas pelo cinza-cimento que lhes servia de base».
O comunicado (intitulado «Censura com assinatura») continua, apontando à Câmara Municipal do Porto «um acto de censura cirurgicamente orientada para que não se sintam as vozes dissonantes da cidade. Um acto que é uma repetição da forma de governar que já nos persegue há décadas, que se intensificou com Rui Rio e com Rui Moreira, mas que – não tenhamos dúvidas – seria basicamente a mesma com qualquer outra gestão das que vão a votos nas próximas autárquicas. Faz parte das instituições políticas tradicionais resolverem os problemas com a oposição através da integração ou, quando não possível, do silenciamento.»
Para, depois, concluir: «Não é, portanto, um ódio particular ao actual presidente da Câmara que nos move. Muito menos o intuito de usar este episódio como arma de arremesso eleitoral. Move-nos um amor à liberdade que nos impede de ficar quietas sempre que a face da censura se atreve a mostrar-se. E move-nos ainda um combate pela nossa dignidade – nossa, de todos os humanos sem pretensões de poder nem vontade de submissão – que nos faz rejeitar uma forma de governação que permita que alguém, do alto da sua discricionariedade, decida o que é arte e discurso legais e arte e discurso proibidos, executando essas sentenças de forma altiva. Resulte essa decisão da visão pessoal de Rui Moreira, da da sua polícia, ou da de qualquer outra pessoa que pretenda representar-nos.»
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