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Lendo: Sofrimento Animal: De Portugal a Israel

Sofrimento Animal: De Portugal a Israel

Sofrimento Animal: De Portugal a Israel


A exportação de animais vivos para o abate religioso judaico (kosher) e muçulmano (Halal) em Israel tem levado um grupo de ativismo vegano em Setúbal a documentar a situação nos portos de Setúbal e Sines. Um «ativismo de compaixão», assim o apelidam no testemunho que fizeram chegar ao Jornal MAPA.

 

Para o «Setúbal Animal Save» fica sempre a questão: haverá alguma forma humana de matar alguém que não quer morrer?

Os portos de Setúbal e Sines têm sido palco do negócio de exportação de animais vivos em Portugal por via marítima desde 2015. Em 2018 saíram de Portugal 347,961 animais a bordo de navios, em viagens que têm uma duração de 6 a 12 dias. Um aumento exponencial de cerca de 127,000 animais quando comparado a 2017. E, como qualquer outro negócio, o objetivo será sempre o de aumentar a produção e o seu consequente lucro.

Em janeiro de 2017 surgiu o grupo de ativismo vegano em Setúbal sob o nome «Setúbal Animal Save – Stop Live Exports», pertencente ao movimento internacional «The Save Movement», que apela à documentação e sensibilização do que representa o transporte animal vivo até ao seu abate. Realizamos vigílias à porta de matadouros, leilões de animais, mercados e, no nosso caso, portos marítimos. O foco está em consciencializar a sociedade para o facto de os chamados «animais de criação», que aparecem embalados nas prateleiras de supermercados, são criados somente para a exploração e usufruto do ser humano, quando na realidade são animais com as mesmas qualidades de qualquer outro animal doméstico que tenhamos em casa e consideramos família. A única diferença que os separa reside apenas na nossa consciência, na nossa perceção, na educação e cultura em que crescemos.

Marcamos presença durante todos os embarques de animais em Setúbal e Sines e documentamos estas vidas. Usamos cartazes, distribuímos panfletos e filmamos os animais dentro dos camiões durante a sua entrada no porto, oferecendo um pouco de compaixão durante o pouco tempo que nos é permitido estar com eles. Assim incentivamos a despertar para esta consciência, abafada pela indústria pecuária e pela publicidade que oferece sempre ao consumidor uma imagem enganadora de animais felizes e a viver em liberdade.

A exportação de animais vivos é um flagelo, quer da perspetiva animal, quer da perspetiva ambiental. A agropecuária industrial destrói ecossistemas inteiros e é a maior causa de destruição do planeta, como apontam as Nações Unidas.

Setubal Animal Saves

Durante as vigílias tivemos oportunidade de documentar algumas situações de ferimentos graves em vários animais, como cornos e pernas partidas, um prolapso grave numa cauda de um borrego, duas vacas deitadas dentro dos camiões a ser espezinhadas por outras vacas, animais com sintomas de doenças e até um carneiro com um corno a crescer para dentro da sua própria face. Todas estas situações ocorrem antes ou durante o transporte terrestre. Não podemos afirmar ao certo que estes animais chegam a embarcar pois, por lei, não estariam em condições de prosseguir viagem ou sequer de entrar nos camiões. Mas os relatos e filmagens que nos chegam dos nossos colegas ativistas em Israel, do grupo «Israel Against Live Shipments (Israel Animal Save)», mostram consecutivamente animais feridos, imundos, cobertos de excrementos e urina. E em todas as viagens existem fatalidades.

Todos estes animais passam por uma temporada de quarentena, de 2 a 8 dias, em quintas sem as mínimas condições de higiene e sem a possibilidade de receberem assistência veterinária, caso estejam doentes ou feridos. Selecionados, serão depois enviados para quintas de engorda ou para o matadouro. As imagens que nos chegam de Israel mostram uma constante repetição de sofrimento.

Esta realidade continuará até ganhar voz um sentimento, que cremos generalizado, que abomina os maus-tratos contra qualquer animal. A compaixão e solidariedade ao próximo são valores universais presentes em todas as culturas e religiões, no entanto, a grande maioria da população parece ser cega à realidade vivida pelos animais procriados e explorados dentro da agropecuária.

Por todo o mundo, para consumo humano são mortos cerca de 150 biliões de animais sencientes anualmente. Mais de 70% de toda a área florestal do planeta está a ser substituída por quintas de procriação, de engorda ou de monocultura de alimentos para estes animais. A maioria dos consumidores desconhece esta realidade ou escolhe não aceitá-la. Mas sabemos também que a maioria não está a favor desta indústria de exportação de animais vivos, pois toda ela existe com base num conjunto de práticas que sujeitam animais a situações dantescas até chegarem ao seu destino e a uma morte que nos é difícil imaginar.

A nossa missão como movimento passará sempre por tentar unir a sociedade numa só consciência, numa verdade que nos é comum a todos: a de que uma vida sem sofrimento é um direito de todos os animais. O sofrimento sente-se de igual forma, sejamos humanos ou não-humanos, e a compaixão deve oferecer-se porque acreditamos na justiça e queremos deixar um planeta mais saudável para as gerações futuras. Que não fique destituído de vida, pois só temos este e ele não é substituível


Mais informação e updates em: https://www.facebook.com/setubalesinesanimalsavestopliveexports/


Texto de Setúbal Animal Save [setubalanimalsave@gmail.com]
Fotos de Alex Gaspar


Artigo publicado no JornalMapa, edição #23, Abril|Junho 2019.


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Jornal Mapa

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