Desculpa, mas não encontramos nada.
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Lendo: Em memória do anarquista Kyriakos, nas ruas de Atenas
Há um ano, uma explosão acidental vitimou o anarquista Kyriakos Xymitiris, deixando ferida Marianna Manoura. Seguiram-se diversas detenções, escalando a perseguição do estado grego ao movimento anarquista.

A 31 de outubro de 2024 uma explosão acidental num apartamento em Ambelokipi, em Atenas, causou a morte do anarquista Kyriakos Xymitiris. Marianna Manoura, que também estava no apartamento, sofreu múltiplas lesões, foi levada para a unidade de cuidados intensivos hospitalar, sob vigilância constante da polícia. Após 15 dias internada e apenas um dia após ter sido submetida a uma segunda operação, foi transferida para a prisão feminina de Korydallos, onde lhe foi negada, de forma vingativa, conforme os comunicados divulgados, o acesso aos cuidados médicos de que necessitava para melhorar o seu grave estado de saúde.
Bombas e anarquistas. Com estes dois elementos em jogo, num país onde essa equação nunca desapareceu totalmente da esfera anarquista, a qual mantém uma forte presença nos movimentos sociais, o acontecimento veio reforçar no último ano por parte do estado grego uma «caça às bruxas», apoiada por diversos meios de comunicação social. Neste contexto de propaganda estatal, arbitrariedade judicial e alarmismo mediático, conforme refere o recente comunicado anarquista que apelava a manifestações de solidariedade, um ano decorrido da explosão que tirou a vida a Kyriakos, esta foi imediatamente transformada numa ferramenta política. Em marcha toda uma narrativa de terrorismo, invocando o artigo 187.º A, que define o terrorismo no código penal grego, com vista a criminalizar relações de camaradagem e amizade em torno de Kyriakos Xymitiris e Marianna Manoura.
Durante o último ano, com provas supostamente «irrefutáveis», a anarquista Dimitra Z. e o anarquista Dimitris foram presos, embora a sua única ligação aos acontecimentos fosse somente a sua relação com o apartamento onde ocorreu a explosão. Ao mesmo tempo, e no clima político mais amplo dos dias que se seguiram à explosão, Nikos Romanos foi igualmente preso logo a 18 de novembro. O seu invocado envolvimento no caso baseia-se na descoberta com valor processual legal facilmente questionável: uma impressão digital num saco de plástico. Sem espaço para refutar a irrelevância de uma prova num objeto que facilmente se move de um lado para outro, tal foi o suficiente para iniciar uma campanha de propaganda nos media sobre supostas «provas irrefutáveis que fecham o caso de Ambelokipi». Na esperança de abrir um novo ciclo de processos judiciais, poucos dias depois após a detenção de Romanos, a 26 de novembro, o «saco de plástico» levou a polícia da unidade antiterrorismo a efetuar mais uma prisão e detenção, a de A.K.

A morte de Kyriakos, a repressão e as prisões que se seguiram, têm sido marcantes para o movimento anarquista grego, mobilizando ondas de solidariedade em toda a Grécia. No passado dia 31 de outubro, uma manifestação em Atenas mobilizou-se para relembrar Kyriakos. No texto da convocatória, é sublinhada uma análise mais ampla suscitada em torno deste caso: «não esquecemos e não deixaremos de dizer que os terroristas foram, são e sempre serão os Estados e os capitalistas. São eles que sistematicamente degradam as nossas vidas e priorizam o lucro às nossas custas. Participam direta e indiretamente em guerras e têm repetidamente tomado uma posição a favor do genocídio e do massacre em Gaza, da deslocação dos palestinianos pelo Estado israelita e dos interesses sangrentos do Ocidente no Médio Oriente. São estes os que sistematicamente encobrem o crime capitalista do Estado em Tempi [acidente ferroviário de fevereiro de 2023] e difamam os familiares das vítimas que lutam por justiça. São eles que tentam negar as suas responsabilidades de forma ensurdecedora e criticam aqueles que lutam e devolvem uma parte da violência aos opressores das nossas vidas. Aqueles que assassinam pessoas todos os dias em hospitais e campos de trabalho, chamando aos assassinatos “acidentes”, que impõem turnos de 13 horas de trabalho intensificado e sem seguro. Aqueles que sistematicamente reforçam o armamento das polícias e assassinam imigrantes em esquadras, campos de concentração e nas fronteiras. Aqueles que, através da pilhagem dos bens comuns e da austeridade, oprimem e esmagam as classes sociais mais baixas. Que reprimem, esmagam, torturam e prendem qualquer pessoa que se levante e resista coletivamente à brutalidade capitalista. Aqueles que encobrem violadores e assassinos de mulheres e toleram a violência social e de classe diária sofrida pelos setores explorados da sociedade às mãos do Estado e do capital e, ao mesmo tempo, nos convidam a juntar-nos aos seus gritos de guerra».
Texto de K
Fotos de Alexandros Zampitoglu (@alex.zampitoglu)
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