Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1971-1974)
Este documentário, de Luiz Gobern Lopes, Fernando Silva e Francisca Serrão, vem preencher uma carência na história da resistência ao regime ditatorial salazarista: a oposição armada.
Na década de 60, do século XX, «a luta armada» está na moda em todos os continentes. Os exemplos de Cuba, Vietname, Argélia ou Palestina impulsionaram a constituição de grupos armados, mesmo em países de democracia parlamentar, como Itália, Alemanha ou mesmo nos EUA, a maioria deles esquerdistas e neo-estalinistas.
Em Portugal, entre 1967 e 1974, três organizações armadas levaram a cabo ações violentas contra o regime fascista salazarista: a LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária), a ARA (Acção Revolucionária Armada) e as BR (Brigadas Revolucionárias). Antes desta data ocorreram, entre 1927 e 1937, os levantamentos armados de tendência republicana, a greve insurrecional de 18 janeiro de 1934, organizada pelos anarco-sindicalistas da antiga CGT e o atentado falhado a Salazar em 1937. Foi após as eleições em 1958, com a candidatura do general Humberto Delgado e impossibilitada a mudança do regime por meios pacíficos, que surge um novo impulso para a via armada: o assalto ao navio Santa Maria, em janeiro de 1961, desvio do avião da TAP, em outubro e no final desse ano o assalto falhado ao quartel de Beja.
O documentário As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974), dividido em duas partes, é um registo dos testemunhos daquelas e daqueles que nelas participaram. Começa por contextualizar as circunstâncias históricas da sua ação, dá-nos a conhecer a origem e a identidade dos componentes, até este momento desconhecida da grande maioria do público. Alguns dos nomes «agraciados com a prestigiosa Ordem da Liberdade (Piteira Santos, Manuel Alegre, Stella Piteira Santos, Isabel do Carmo, Nuno Teotónio Pereira, Luís Moita e Conceição Moita)». E outros, sem medalhas, como a família Batista: Júlia, Vasco, Artílio e Nuno, como João Pequeno ou o “Alentejano”, Encarnação Vilela, Teresa Veloso ou José Paulo Viana, para citar somente alguns dos protagonistas. Contam-nos as ações empreendidas, por exemplo, o ataque à base secreta da NATO na Fonte da Telha, 7 de novembro de 1971; a sabotagem da bateria de canhões no Barreiro, 12 de novembro de 1971; a destruição de 15 camiões Berliet destinados à guerra colonial, 11 de julho de 1972; o ataque à bomba no Quartel General em Bissau, 22 de fevereiro de 1974; ou a ação de sabotagem ao navio Niassa ancorado no Porto de Lisboa, 9 de abril de 1974. Pelo meio, e para financiar as BR, várias expropriações de fundos a Bancos. De assinalar, o lançamento de dois porcos, enquanto se desenrolava a reeleição de Américo Thomaz, no Rossio e em Alcântara, vestidos de Almirante, que levavam o seguinte dístico: «Américo Thomaz, presidente ao quilómetro». Outra das ações testemunhadas neste documentário foi o assalto aos Serviços Cartográficos do Exército, em Dezembro de 1972, onde as Brigadas se apoderaram de cartas militares de Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique que seriam, posteriormente, entregues aos movimentos de libertação. Eram mapas secretos, que auxiliavam o posicionamento das tropas portuguesas no terreno e planos de ataque aos movimentos de libertação. José Paulo Viana levou-os para Paris, de onde seguiram para Argel e aí foram entregues aos representantes do MPLA, PAIGC e FRELIMO. Agostinho Neto, presidente do MPLA, enviou uma carta de agradecimento às BR. No total foram retirados cerca de 200 mapas que, de acordo com os movimentos de libertação, «constituíram um instrumento importante para a intensificação da luta». Luta de libertação anti-colonial que, diga-se, deu origem ao surgimento de novas classes dominantes, peões, por sua vez, nas mãos de grandes potências…
Resta mencionar, para terminar esta brevíssima nota, que a produção do documentário, sem apoios institucionais, nomeadamente em termos de recursos técnicos, implicou algumas limitações perceptíveis num ou noutro momento. Por esse motivo, a sua exibição pública, diz-nos um dos seus autores, «não pode, por ora, extravasar o âmbito privado, até serem solucionadas questões de pagamentos de direitos autorais e de acesso a outras plataformas de exibição pública». Condição indispensável para que todos possam ter acesso a este registo histórico importante para a memória da resistência ao fascismo peculiar de Salazar.
Nota: A apresentação por convite e não comercial de As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1970-1974) (3h10) teve lugar no dia 10 de Novembro no auditório do Liceu Camões, em Lisboa, no dia 19 de Novembro no GDR «Os Leças», no Barreiro, e no dia 3 de Dezembro na Cooperativa do Porto Portuense, na capital nortenha.
Legenda da fotografia [em destaque]: “Estragos provocados no Quartel-Mestre General na Rua Rodrigo da Fonseca a 9 de Março de 1973. Aqui morreu o camarada Luís”.
Artigo publicado no JornalMapa, edição #36, Dezembro 2022|Fevereiro 2023.
0 People Replies to “As Brigadas Revolucionárias na Luta Contra a Ditadura (1971-1974)”