Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: Uma Pequena Homenagem aos Saboteurs do CERN
Caras companheiras da nação inter-espécies genovense e caros companheiros de todas as nações transfronteiriças que estão cá presentes para relembrar que o internacionalismo é mais do que uma aliança contra um inimigo comum: é a própria substância do futuro que queremos alcançar.
Hoje estamos aqui reunidos para comemorar a saudosa memória do companheiro Firmino da Silva que, há precisamente seis anos, deu a vida para sabotar mais um plano megalómano da espécie humana. Firmino, um fuinha que, três anos antes, imigrara de geografias portuguesas para se juntar à luta contra o mega-projecto antropocentrista que dizimou a nossa vila – o Grande Colisor de Hadrões 1–, sacrificou a sua vida para mostrar o impacto que uma criatura tão pequena como nós pode ter quando ataca os pontos vitais do Monstro. Prestar-lhe tributo é o mínimo que podemos fazer.
Queremos também homenagear Josep Clastres, um fuinha adolescente que, seguindo o exemplo de Firmino, mordeu os cabos de alimentação que levaram a Máquina a perecer consigo. Para angústia da família, ainda não conseguimos recuperar o seu corpo, que fontes fiáveis afirmam ter sido colocado num museu em Roterdão por um depravado coleccionador de cadáveres não humanos 2(2). Enquanto não o conseguimos resgatar, permitamos que a sua memória revolva nas nossas almas.
Josep Clastres, um fuinha adolescente que, seguindo o exemplo de Firmino, mordeu os cabos de alimentação que levaram a Máquina a perecer consigo
Para justiça de nos compagnes do outro lado da fronteira humana, é também importante relembrar o ataque com baguettes levado a cabo pela comitiva inter-aviária 3 de Pays de Gex – a primeira sabotagem de sempre à Máquina-Monstro, que terá certamente inspirado o companheiro Firmino no seu derradeiro acto.
Porém, apesar de apreciamos a coragem de nos compagnons Firmino e Josep, não pretendemos encorajar o auto-sacrifício, independentemente dos seus fins. Afinal, os fins são os meios! Compreendemos que, para derrotar o inimigo, temos de combater, não individualmente, mas em união. É por isso que, neste dia marcante, apelamos a que se juntem a nós na luta contra a espécie humana e…
– Ei!, não concordo com essa formulação! Como animal semi-doméstico posso dizer-vos que nem todos os humanos são especistas, muito menos megalómanos. Conheço alguns que dedicam a vida a tentar compreender animais de outras espécies ou até mesmo a tentar deter as megalomanias de seus semelhantes. Por isso, acho importante deixar claro que a nossa luta não é contra a espécie humana como tal, mas contra o abuso de poder de «alguns» humanos sobre todos os terráqueos. E, para conseguir fazer-lhes frente, também precisamos de aliados humanos: ninguém conhece melhor os nossos inimigos externos que os seus inimigos internos.
– Pois…
– O quê?! Deves ‘tar a goz…
– Masss…
– Deixem el…
– Eiii…!!!
Ultrapassada a inter-animalesca balbúrdia, decidiu-se convocar uma reunião geral extraordinária para decidir quem era realmente o inimigo comum da internacional inter-espécies e para clarificar os meios e os fins da sua luta, antes de planear um ataque conjunto ao infame Large Hadron Collider.
Texto de Monsieur Tabaibo
Artigo publicado no JornalMapa, edição #34, Maio|Julho 2022.
Notas:
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