![Música Sem Filtros [vol. 3]](https://www.jornalmapa.pt/wp-content/uploads/2022/10/a3496064078_16.jpg)
Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: Música Sem Filtros [vol. 3]
Porque a música permanece como um lugar de encontro de informação critica e um espaço onde todos os dias se resiste e se constroem comunidades em liberdade, eis mais um volume de Música Sem Filtros.
Trata-se da terceira compilação em formato digital em que diferentes artistas e bandas se mostram solidários com o MAPA, doando um tema próprio, cujas receitas, cada vez que se descarregam as músicas no Bandcamp, revertem para o jornal, sem prejuízo, claro, de se poderem ouvir gratuitamente. Basta ir a musicajornalomapa.bandcamp.com.
Desta vez, é todo um volume em torno do hip-hop. A expressão musical que reiteradamente se vê alvo da sanha persecutória do Estado, pois, apesar da sua crescente e afirmada popularidade, nasce de expressões artísticas e culturais «marginais» das «populações que habitam em territórios periféricos (“zonas sensíveis”), populações racializadas, culturas políticas que desafiam a norma», como adiante é escrito nesta edição (ver #35 do JornalMAPA) a propósito do último Relatório Anual de Segurança Interna, que persiste na «lógica perversa, [de apontar] a origem de qualquer “problema” nesses hábitos peculiares – como fazer música – e nas vivências de certas camadas populacionais, geralmente minoritárias.»
LBC, como é conhecido o rapper cabo-verdiano da Cova da Moura Flávio Almada, é, nesta Música Sem Filtros, uma das vozes incontornáveis de intervenção no hip hop em crioulo. NEX SUPREMO debita o seu rap crioulo directamente do Bairro do Fim do Mundo (Estoril), onde nasceu e começou a escrever e a lançar rimas desde os 10 anos de idade. As suas letras têm-se destacado pela forma como descrevem vidas periféricas e as políticas sociais à sua volta.
No feminino, do Monte da Caparica, surge JUANA NA RAP, outro nome fundamental do rap crioulo que, como a Livraria das Insurgentes (que entrevistamos no #35 do JornalMAPA) anunciava na divulgação do seu concerto, «espalha histórias de vida que são lutas diárias de amigxs, de vizinhxs, do bairro, da cidade invisível». JJ 2000 FANTASMAS corresponde a Jumping e Jeremy, a dupla feminina que dá nome a este projecto. Conhecidas do projecto Djamal, nos anos 1990, destacam-se pelas letras de luta e perspectiva feminista num movimento que ainda se sente patriarcal.
NA ZONA é um músico de origem angolana a viver na Margem Sul do Tejo, que cruza experiências de vida em ambas as terras, dotado de uma musicalidade original na forma como junta a voz ao instrumental. Por sua vez, VIBRATION MATTERS, entre o hip-hop e o reggae dub, junta Freddy Locks e Bdjoy na escrita e vozes, Bruno Crux e Gunsu na produção instrumental e visual (e outros tantos convidados), num sound system de vibração em crioulo, inglês e português sempre consciente.
BRANCO, rapper de referência em Setúbal, é um escritor de letras com um flow muito próprio, de vocabulário rico e letras que intervêm no espaço onde habita, convive e observa. Representantes do centro do país, A VELHA CAPITAL é hip-hop que nasceu a partir da união entre diferentes colectivos musicais da cidade de Coimbra. Mais a norte, de Braga, ÂNGELA POLÍCIA, projecto de Fernando Fernandes, apresenta-se como «uma manifestação de intervenção social e espirros emocionais», numa fusão de hip-hop, dub ou punk, à volta da «consciencialização, injustiça, violência, depressão, união, rotina, boémia ou sobrevivência.» Por fim, de ARDE ESSE MAMBO diz-se que se trata de um eletcro punk do Kuduro que, «com raízes no submundo, traz a raiva que este mundo injusto nos provoca sob a forma de vibrações caóticas e altamente dançáveis! Um trio de criaturas benévolas, mas movidas por forças obscuras» que diz «cuspir uma mensagem de revolta».
O anterior volume compilatório de Música Sem Filtros contara com SKAPARAPID, ska de Valência; o reggae de RAS MJ SOULJAH, da Cova da Moura; o rap reggae de tradição cabo-verdiana de BDJOY; o hip-hop de intervenção de TK & PIKA; os beats de MORAIS; o free jazz de RICARDO BARRIGA; o punk rock pirata de BLACK JOKE; o hardcore old school dos QUESTIONS, de São Paulo; o punk rural do Porto dos TRASHBAILE; encerrando com a electrónica experimentada a partir da margem sul do Tejo de PUÇANGA.
A edição inaugural – já depois da reedição em CD da k7 VIVER / FESTA, dos C.O.M.A., hip hop anarquista de finais de 1990 – surgira com o rap crioulo das periferias de Lisboa de KARLON KRIOULO; com BOSS e as suas cumplicidades com CALLA LA ORDEN, de Burgos; o rapper/activista Luso-Angolano BRUCE GEE; SCÚRU FITCHÁDU e o seu Electro Funaná Punk Hardcore; o punk rock no feminino de ANARCHIKS; o streetpunk antifa de ALBERT FISH; o anarcopunk folk gerado em Lisboa pelos SHARP KNIVES; e a atitude interventiva do reggae de FREDDY LOCKS. Todos estes trabalhos se mantêm disponíveis para audição livre ou compra solidária no Bandcamp do Jornal MAPA.
Artigo publicado no JornalMapa, edição #35, Setembro|Novembro 2022.
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