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Lendo: Pandemia Totalitária em Itália

Pandemia Totalitária em Itália

Pandemia Totalitária em Itália


O carácter ideológico e persecutório do poder judicial italiano na reacção ao posicionamento anti-estatal do movimento anarquista revela-se de forma evidente com a detenção de pessoas envolvidas em campanhas de solidariedade com os presos em luta na prisão de Bolonha.

Na noite de terça-feira, dia 12 de Maio, foram detidos sete anarquistas e outros cinco foram sujeitos a medidas cautelares no seguimento de uma operação de forças de segurança coordenada pela Procuradoria de Bolonha que envolveu 200 polícias, entre carabinieri – agentes policiais normais – e agentes do ROS, Grupo Operativo Especial. No quadro da chamada operação «Ritrovo» – em português «encontro», mas também «local de encontro» – o espaço anarquista de documentação Il Tribolo, em Bolonha, e vários domicílios foram alvo de buscas. As acusações fazem referência a uma propaganda anti-Estado levada a cabo por diferentes meios, que terão tido particular ênfase e culminado no apoio e na solidariedade manifestados aos presos em luta na prisão de Bolonha, que protestavam contra as condições de vida miseráveis e os elevadíssimos riscos de contágio do coronavírus. Durante a emergência sanitária, nessa mesma prisão, morreram oficialmente dois homens por terem contraído a COVID-19.

Os anarquistas detidos, no âmbito desta operação policial, em departamentos de alta segurança devárias prisões do norte da Itália, encontram-se em isolamento devido à obrigação de quarentena de 14 dias, tendo sido sujeitos,no dia 15 de maio, a interrogatórios colectivos por videoconferência.

De acordo com o texto publicado no site macerie.org, «a investigação decalca um guião já há muito tempo desgastado, mas recuperado ciclicamente ao longo dos últimos vinte anos. Uma associação subversiva com a finalidade de terrorismo – art. 270bis – composta apenas pelas pessoas detidas, caracterizada por um certo número de delitos e de condutas específicas, que vão da instigação ao crime, à danificação e desfiguração, até ao incêndio de uma antena retransmissora(em 2018!), que são agravados pela finalidade subversiva e que se distribuem, ainda não sabemos de que modo, pelas várias pessoas investigadas.» Assinalando não haver «notícias mais específicas sobre a investigação e sobre as medidas cautelares impostas» aos detidos Giuseppe Caprioli, Leonardo Neri, Stefania Carolei, Duccio Cenni, Guido Paoletti, Elena Riva e Nicole Savoia, o site, que acompanha e aprofunda as situações decorrentes do estado de pandemia, sublinha «as particularidades desta operação relativas à emergência do coronavírus. Relativamente à detenção, os companheiros e as companheiras foram imediatamente transferidos para prisões com departamentos de Alta Segurança (AS2), sem passar por prisões perto do lugar de detenção, como é costume. Uma escolha que, imaginamos, terá sido ditada pela logística penitenciária, ligada não apenas a razões sanitárias, mas também a preocupações de ordem pública. Não é por acaso que, nas declarações da Procuradoria, se faz manifesta referência à participação destes companheiros nos conflitos que eclodiram recentemente nas prisões italianas, no decorrer da epidemia do coronavírus», declarando que«neste quadro, a intervenção, além da sua natureza repressiva contra os alegados crimes, assume uma mais-valia estratégica de prevenção, que visa evitar que, em eventuais momentos de tensão social, provocados pela dita situação de emergência particular, possam instalar-se outros momentos de campanha de luta anti-Estado, objecto do já citado programa criminoso de matriz anarquista».

Conforme conclui o site macerie.org, tal «quer mais ou menos significar que “nesta altura é oportuno despacharmo-nos destes irredutíveis chatos, que, temos a certeza, não vão perder a ocasião para tentar lembrar, de diferentes maneiras, as responsabilidades das autoridades do Estado e promover as lutas contra estas”». Tornando-se evidente nessa análise que, «se ainda existisse algum honesto democrata capaz de ler com atenção essas linhas, não poderia fazer outra coisa senão indignar-se, ainda por cima se soubesse que, pelos vistos, esta investigação já estava preparada, tendo ficado durante vários meses numa gaveta de um procurador qualquer. Para nós, essas palavras parecem reiterar, pelo contrário, que o futuro próximo se avizinha cheio de riscos e de dificuldades, bem como de ocasiões de luta. Aliás, muito dificilmente estas últimas conseguem caminhar sozinhas, sem a companhia dos primeiros.»

Texto de Cláudio Duque e Filipe Nunes


Written by

Filipe Nunes

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