Desculpa, mas não encontramos nada.
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Lendo: «Guerra à guerra»: das lutas ecologistas ao complexo militar-industrial
Em França a coligação «Guerra à guerra» anunciou uma primeira ação comum por ocasião do salão da aviação militar em Le Bourget, no próximo dia 21 de junho, onde a presença de empresas militares israelitas foi confirmada por Macron. Soulèvements de la Terre (Insurreições da Terra), um movimento de resistência no território francês nascido em 2021 e que tem levado a cabo diversas lutas contra megaprojetos industriais, anunciou a sua adesão a essa coligação, que se apresenta como agregando «numerosos coletivos e indivíduos de todos os horizontes, com o objetivo de desarmar a máquina de guerra e relançar um antimilitarismo popular.»

Em comunicado disponível na página, também em português, dos Soulèvements de la Terre, este grupo justifica a sua adesão «porque nos recusamos a permanecer espectadores diante da intensa retomada dos bombardeamentos em Gaza e dos planos de deportação da população palestina; porque nos recusamos a ser reduzidos à impotência diante da ofensiva antisocial e antiecológica conduzida em nome da economia de guerra; porque nos recusamos a que, às portas de Paris, sejam realizadas transações mortíferas entre cúmplices de genocídios e crimes de guerra. Contra a marcha forçada da economia de guerra e face ao genocídio na Palestina, estaremos lá.»
Num seu apelo à mobilização do próximo dia 21 de junho – e que pode ser lido AQUI – denunciam a lógica da guerra que é dominante no discurso mediático e governamental, recordando que «as guerras, mesmo as mais distantes, são fabricadas perto de nós. A França é o segundo maior exportador de armas do mundo. A proliferação de conflitos armados é um negócio lucrativo para ela. É cúmplice dos massacres de civis na Palestina e no Sudão. Deixa as suas empresas contornarem o embargo para entregar armas à Rússia. Continua a operar em vários países por meios militares, abertamente ou nos bastidores, para saquear matérias-primas, urânio ou níquel. Procura sempre manter o seu domínio imperial sobre parte da África e do Indo-Pacífico.»
Simultaneamente impõe-se a lógica da militarização e «há já muito tempo, no território nacional, onde se reforça um continuum de segurança entre o exército, a polícia e as fronteiras. Este visa o “inimigo interno”: os estrangeiros, os muçulmanos, marginalizados, os opositores políticos (…) Não nos enganemos, em matéria de política interna, o apelo à “remilitarização” marca a perpetuação de um estado de exceção que se tornou a norma. É um salvo-conduto concedido ao Estado reduzido ao seu aparato mais simples: um órgão militar e policial gangrenado pela extrema-direita.»
A relação das lutas ecologistas ao complexo militar-industrial é por demais evidente. Para os Soulèvements de la Terre, «se as lutas ecológicas e antimilitaristas foram durante tanto tempo complementares, é porque existe uma continuidade entre as infraestruturas de guerra e as de destruição da terra». As guerras «são o instrumento e o motor do extrativismo desenfreado e da apropriação da água, do petróleo, do gás, dos minerais e das terras agrícolas.» e «as reconfigurações geopolíticas em curso marcam uma nova etapa desse processo de pilhagem».
Nesse contexto, referem, e «face a esta interligação entre o complexo militar-industrial e as infraestruturas que devastam a terra, temos de repensar hoje a articulação entre as nossas resistências ecológicas locais e a luta internacional contra as guerras imperialistas. Quando lutamos contra a empresa ST Micro-electronics em Grenoble, em março de 2025, opomo-nos, num mesmo gesto, à apropriação da água, à sua contaminação e à fabricação de componentes eletrónicos que acabam nas mãos dos exércitos israelita e russo. Quando visamos as instalações da Lafarge-Holcim, multinacional que será julgada no outono por financiamento do terrorismo (Daesh), visamos tanto os atores da artificialização na França quanto um grande predador de guerra no Médio Oriente.»
O grupo francês não evita ainda declarar-se afim nem do pacifismo, nem da união sagrada. «”Guerra à guerra” foi o grito de Rosa Luxemburgo e Jean Jaurès na véspera do grande massacre de 14-18. A fórmula resume hoje o paradoxo que nos move: somos contra a própria lógica do complexo militar-industrial, mas assumimos que, na Palestina, na Ucrânia ou em qualquer outro lugar, os povos não podem defender-se sem armas contra as invasões imperialistas, coloniais ou as ditaduras que os oprimem. As possibilidades de autodeterminação popular, com as quais nos solidarizamos, dependem de meios muito concretos para enfrentar as guerras. (…) Elas inventam e mantêm equilíbrios precários entre as necessidades da luta armada e o ideal da soberania popular, entre as dinâmicas da militarização e as da emancipação.» Assim, o grupo no seu «compromisso face ao complexo militar-industrial segue uma linha de equilíbrio: nem oposição moral de princípio a toda a guerra, isentando-nos de tomar partido nos conflitos em curso; nem aliança à união sagrada por trás do “nosso” Estado-nação, inação face à corrida ao armamento e aceitação passiva dos sacrifícios que ele nos quer impor em seu nome.»
No dia 21 de junho, no salão da aviação militar em Le Bourget, as palavras dão lugar à ação.
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