Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: Prisão é tortura
No passado sábado, dia 12 de julho, algumas dezenas de solidárias ocuparam o centro de Lisboa para denunciar a situação insuportável a que os presos da prisão do Linhó estão sujeitos, após sete meses de greve do corpo da guarda prisional, e lembrando os dois jovens que ali morreram num curto espaço de tempo, Gabriel Sousa, de 28 anos, encontrado morto na cela a 7 de março e Yuri Rafael Mendes, de 25 anos, encontrado enforcado a 21 de maio.
A manifestação arrancou da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (ao jardim do Torel), para finalizar no Ministério da Justiça (situado no Terreiro do Paço). A intenção de juntar no percurso estes dois organismos prende-se com o facto de serem quem possui a tutela e a responsabilidade sobre as prisões do país, e também a responsabilidade de garantir a manutenção dos direitos das pessoas reclusas. O braço de ferro que se arrasta desde dezembro no Linhó entre guardas e direção representa um abandono quase total da gestão prisional a um corpo da guarda prisional que desde sempre atuou como uma associação mafiosa, torturando com impunidade e aplicando greves que agravam todos os dias as condições de vida – já péssimas – das pessoas presas. Atualmente, no Linhó, as pessoas ficam em isolamento nas celas por períodos que podem ascender a 27 horas, falta água para beber, comida decente e suficiente, faltam cuidados médicos e apoio psicológico e falta o contacto com a família e com os advogados.
A greve – também em curso no EP feminino de Tires desde abril – no contexto do sistema prisional português é um direito instrumentalizado há décadas, à custa do corpo e da vida das pessoas presas. Em nome de interesses corporativos reforça-se o castigo, o isolamento e a violência institucional.
Numa recente reportagem de Ana Cristina Pereira no Público, a intenção dos guardas foi bem exposta pelopresidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP): «Queremos transportar para fora da greve o modelo que se aplica na greve. A cadeia não é uma colónia de férias. A cadeia tem de ser sentida. Quem não tem atividade não tem de estar no recreio a apanhar banhos de Sol». Ou seja, para estes «profissionais», o objetivo é que a greve se torne a regra, com condições que reforçam ainda mais a tortura de um sistema prisional com uma das maiores taxas de mortalidade na Europa e com 121 presos por cada cem mil habitantes, também um dos países da União Europeia com maior taxa de encarceramento.
No manifesto promovido pelos coletivos Vozes de Dentro, Vida Justa e Stop Despejos, podemos ler:
«Recusamos o silêncio, a indiferença e a cumplicidade. Recusamos o encolher de ombros institucional e a normalização da morte como parte do sistema prisional.
É urgente denunciar, mobilizar.
É urgente romper o isolamento das pessoas presas, desafiar a cultura punitiva que naturaliza a violência como resposta à pobreza, à dissidência e à exclusão.
Neste país existem campos de concentração que condenam pessoas à morte.
Em Solidariedade com todas as vítimas do sistema prisional!»

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