shop-cart

Lendo: Mil milhões para o Líbano tratar dos refugiados que a UE não quer

Mil milhões para o Líbano tratar dos refugiados que a UE não quer

Mil milhões para o Líbano tratar dos refugiados que a UE não quer


Depois da Mauritânia, da Tunísia e do Egipto, é a vez do Líbano ser inundado de dinheiro europeu para tratar dos migrantes (maioritariamente sírios) antes que cheguem a costas europeias. O próximo objectivo é o de chamar oficialmente «zona segura»a algumas áreas da Síria e, dessa forma, permitir o repatriamento legal de milhares de refugiados.

O acordo entre a UE e o Líbano, anunciado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no passado dia 2 de Maio, foi apresentado como sendo de apoio ao desenvolvimento económico do país, de fortalecimento de serviços básicos, como a a educação a protecção social ou a saúde. No entanto, um olhar mais pormenorizado mostra que cerca de dois terços dos mil milhões de euros acordados (736 milhões) vão directamente para garantir que o Líbano contém dentro de portas todos os refugiados que queiram seguir para a a Europa.

Este acordo vem no seguimento do aumento da tensão na área ligado ao genocídio sionista em Gaza, numa altura em que se deu um aumento repentino de partidas de refugiados sírios desse país em direcção à Europa, principalmente para o Chipre, situação que tinha já tido luz verde da parte dos Estados membros em meados de Abril, quando, à saída duma cimeira, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu (que reúne os chefes de Estado dos 27), lembrou que «há muitos refugiados sírios no Líbano e todos nós compreendemos que é nossa responsabilidade colaborar com este país (…) incluindo as forças armadas libanesas».

O presidente cipriota, Nikos Christodoulides, aclamando o acordo como «histórico» e não escondendo a sua verdadeira intenção, afirma: «louvamos o governo libanês por ter acolhido um grande número de refugiados sírios durante mais de 12 anos, mas estamos plenamente conscientes da enorme pressão que esta situação exerce sobre a vossa economia e a vossa sociedade». E vai mais longe, ao pedir que o estatuto de algumas regiões da Síria seja «reexaminado», de forma a serem consideradas como zonas seguras para facilitar o regresso de migrantes e refugiados.

Uma exigência que vai de encontro às da Turquia e do próprio Líbano, que também pretendem repatriar legalmente milhares de pessoas e que, para tal, precisam que seja a ONU (através do ACNUR) a definir essas «zonas seguras». A própria UE está no mesmo passo e, através de um porta-voz da Comissão Europeia, confirmou que está «a iniciar agora discussões para ver como abordar esta questão no próximo período». Aliás, Von der Leyen também propôs um acordo de trabalho entre o Líbano e a Frontex, «especialmente no que respeita ao intercâmbio de informações e ao conhecimento da situação«, ou seja, vigilância comum e partilha de dados.

A UE, que se recusa a acolher os refugiados que a procuram, pouco faz para resolver as situações que os fazem migrar (veja-se o que a UE – não – faz em Gaza), mas muiltiplica-se em pacotes financeiros que dizem servir para que países como o Líbano possam «assegurar o bem estar das comunidades de acolhimento e dos refugiados sírios». Uma política que deixa migrantes em situação de miséria «alojados» em países instáveis e próximos de conflitos armados com potencial explosivo, em vez de os alojar nos seus próprios territórios muito mais bafejados pelo privilégio, é uma política propositadamente criminosa, dum egoísmo e duma falta de empatia que não congela o sangue apenas aos mais nazis dos seres humanos.

______

Imagem em destaque: badenstern
Imagem arame-farpado: Markus Spiske


Written by

Teófilo Fagundes

Show Conversation (0)

Bookmark this article

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

0 People Replies to “Mil milhões para o Líbano tratar dos refugiados que a UE não quer”