Desculpa, mas não encontramos nada.
Desculpa, mas não encontramos nada.
Lendo: Entrevista com NexSupremo: solidariedade com todxs xs presxs dentro e fora muros
Jornal Mapa – Como defines a tua música?
NexSupremo – Eu chamo-me Nex Supremo, o nome surgiu de uma abreviatura de outra alcunha antiga e que ficou… Sobre o que estou a fazer, a minha cena é a minha vida. Eu canto a minha vida e o que me rodeia. Transmito a minha realidade, não só as fases más, mas também as boas. O meu rap é a minha vida.
JM – A nosso ver, “Música sem Filtros” é uma compilação de músicas de combate, de intervenção, com que nos identificamos enquanto colectivo. Qual a importância de a música intervir e de ser uma ferramenta de luta?
NS – A nossa música, minha e do Jahmaika, é sobre uma pessoa que estava enclausurada, sem a sua liberdade, e uma pessoa que está do lado de fora. Tem os dois pontos de vista. Um que trata a realidade que está a viver, na rua, com problemas – que era o Jah. E eu, o lado de quem já perdeu, já viu a vida quando bates no fundo, porque pior que a cadeia é a morte. Era isso que eu estava a tentar mostrar. Acho que a música, para fazer sentido, ela é alegria mas a intenção número 1 é a intervenção. Se não houver intervenção na música, num álbum, numa mixtape, num E.P., ela perde um bocado o sentido. Música é vida. A gente vai falar daquilo que se passa para as pessoas verem a realidade, ouvirem a realidade. Eu ouço música de intervenção e, como gosto de cantar, é também o que vou fazer. Se eu mudar de gosto musical e começar a ouvir cenas diferentes vou fazer cenas diferentes.
JM – Sobre esta faixa, N’ka sabia ma kel vida era si, como é que ela surge? Gravaste a música lá dentro e escreveste lá dentro também?
NS – Sim. E o Jahmaika estava cá fora e fizemos um vídeo a volta da música. Eu estava nos meus 4 ou 5 anos de cadeia. Mais ou menos no início. E era o que estava a sentir no momento. Para fazer sentido com o Jah – foi uma das nossas primeiras músicas juntos – tentei falar sobre o que fiz de errado. Mostrar às pessoas as escolhas que fiz… é a minha auto-crítica. Falo de mim. Tentei transmitir que eu não sabia que a vida era assim, mas esse caminho, ou caminhos parecidos, vão dar a isto… Era um alerta.
JM – E como é que o pessoal lá dentro recebeu a música?
NS – Ya ouviram e ainda hoje ouvem. E sentem aquela nostalgia e sentimento familiar, por estarem lá dentro ou por quem já esteve. A música fala do que tinhamos e do que perdemos. Quem saiu de lá já voltou a ter, mas olha, eu não tive. É um alerta, uma opinião, ao mesmo tempo de liberdade e de intervenção. Porque eu estou a mostrar um outro lado que até agora ninguém tinha mostrado em Portugal – ‘olha, estou aqui dentro, sempre na mesma, não faço nada’. Na primeira pessoa, a falar da situação.
JM – O pessoal lá dentro gravou também o vídeo contigo. Essa solidariedade sente-se no dia-a-dia?
NS – Antes de eles aparecerem eles ouviram o som. Então sentiram que ‘ele está a falar de mim’. A carapuça servia. Eles também quiseram que os seus ouvissem este som, mesmo não sendo eles a cantar. Por isso é que eles quiseram aparecer no vídeo. Podia ser outra pessoa qualquer que estava ali a cantar, porque aquilo fazia parte também da realidade deles e podiam usar as minhas palavras para serem palavras deles. Então aparecerem no vídeo faz com que os seus fiquem também atentos.
JM – E agora que estás cá fora, como vês a letra que o Jahmaika escreveu?
NS – Eu agora estando aqui [fora] vejo a realidade de hoje em dia. Tudo o que ele disse, eu sinto. Nós somos um bocado desprezados, afastados da sociedade, por mais livres que estejamos, há muitas prisões ainda aqui fora. Se é que me entendes. E a letra dele – eu sempre soube, nunca me iludiu, nunca me enganou.
JM – Os sonhos que tinhas quando começaste a escrever mantêm-se, ou mudou alguma coisa?
NS – Por mais experiências que eu tenha vivido, os sonhos mantêm-se. São os mesmos sonhos que eu tinha quando tinha 15 anos, e tenho agora 31 anos, já passaram 16! Continuo com os mesmos sonhos. Atingir aquele patamar, cantar para aquele público, e sonhar e fazer… Apesar de todas as dificuldades, eu acho que isso me faz ter a mente aberta, que me faz continuar a ser o Nex e a cantar assim. A ter ideias e a ter sempre algo novo. Então não páro de sonhar. Não durmo, mas não páro de sonhar!
Fotografia [em destaque] de Diogo Simōes
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