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Lendo: NÃO NOS CONQUISTARAM

NÃO NOS CONQUISTARAM

NÃO NOS CONQUISTARAM


O Esquadrão 421 em Madrid nos 500 anos da Resistência Indígena

Crónica dos primeiros eventos da Caravana Zapatista pela Vida na geografia ibérica de Slumil K’ajxemk’op, ou Terra Insubmissa, como foi rebaptizada a Europa no momento do desembarque zapatista. Uma viagem ao passado colonial e à desumanização hoje dos migrantes, num apelo à reimaginação da história e à reactivação das redes de apoio para cada uma das nossas grandes e pequenas lutas.

Em outubro de 2020 foi tornada pública a partir de Chiapas, no México, a intenção de fazer uma Caravana Zapatista pela Vida através dos 5 continentes. Com o tratamento epistolar que caracteriza o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), foi comunicado que esta travessia sem precedentes começaria pelo continente Europeu. Preparava-se uma delegação composta por companheiros/as/oas dos municípios e comunidades autónomas de Chiapas, do Congresso Nacional Índigena (CNI – CIG) e da Frente de Povos em Defesa da Água e Terra de Morelos, Puebla e Tlaxcala que viajariam pelo mar e pelo ar, com mais de uma centena de pessoas. Em abril de 2021 soubemos que a delegação marítima teria o nome de Esquadrão 421 e em junho que a aerotransportada seria A Extemporânea.

A Travessia Zapatista começou no dia 3 de maio no porto de Isla Mujeres (Quintana Roo, México). Esta ilha faz parte dos lugares que veneravam a Ixchel, a mesma deusa maia da fertilidade que dá sentido a esta volta ao mundo pois, tal como na mitologia longínqua ela o enunciou: «do Oriente veio a morte e a escravidão, que amanhã navegue para o Oriente a vida e a liberdade nas palavras dos meus ossos e o meu sangue». Três décadas após a proclamação do Fim da História por Francis Fukuyama, cumpre-se a profecia de Ixchel através de uma Travessia com uma mensagem que desafia a imaginar uma sociedade global longe das lógicas da hegemonia capitalista.

Depois de seis meses de preparação, o Esquadrão 421, integrado por Lupita, Carolina, Ximena, Yuli, Felipe, Bernal e Marijose – 4 mulheres, 2 homens e uma outroa –, partiu do Caracol Morelia com rumo ao golfo do México. Antes do embarque, como parte do ritual de despedida deste território maia, as sete integrantes reuniram-se com os tercios compas, os comandantes David, Zebedeo e a comandanta Hortensia, com integrantes do Congresso Nacional Indígena, e claro, com o coordenador desta travessia, o Subcomandante Moisés (chamado com carinho Moi). Depois, subiram a bordo d’A Montanha, uma embarcação de pesca construída em 1903 e tripulada pelo Capitão Ludwig, Gabriela, Ete e Carl da Alemanha e Edwin da Colômbia.

A Montanha fez a sua travessia ao longo de 52 dias e fez apenas uma paragem, nos Açores, onde atracou pela primeira vez no dia 11 de junho. Daí seguiu rumo a Vigo, onde a delegação marítima zapatista desembarcou a 22 de junho. Devido aos sucessivos atrasos d’A Extemporânea, o Esquadrão 421 foi o único grupo de Zapatistas presente nos encontros realizados entre junho e o início de setembro em cidades como Mérida, Valência, Barcelona, Toulouse, Paris e Berna, entre outras. Enquanto esta delegação se deslocava através dos diferentes territórios, as mais de 170 pessoas da delegação aerotransportada enfrentaram inúmeros obstáculos na obtenção dos passaportes e das autorizações necessárias para sair do México rumo à Europa. Por um lado, o seu próprio estado-nação não os considerava como cidadãos, exigindo-lhes mais e diferentes documentos a cada uma das repetidas viagens de Chiapas à cidade do México para tratar de burocracias. Por outro lado, a já conhecida Fortaleza Europa continuava a alimentar os seus exigentes trâmites (que raramente se aplicam a europeus e a homens de negócios no geral) num racismo aguçado e mascarado pelo securitarismo sanitário que dizem ser necessário para enfrentar a pandemia do Coronavírus (mesmo com a delegação inteiramente vacinada).

Desde Portugal, vários integrantes dos núcleos que organizam a Caravana Zapatista pela Vida deslocaram-se a diferentes territórios para participar nos eventos que compreendiam esta primeira fase de uma travessia simbólica de reimaginação pacífica da conquista colonial. Foi dessa maneira que fomos acompanhando, ao longo de três meses, alguns dos passos do Esquadrão 421 na sua descoberta de alguns dos recantos de Slumil K’ajxemk’op, ou Terra Insubmissa, como foi rebaptizado o continente europeu no momento do desembarque em Vigo.

«A nombre de las mujeres, niños, hombres, ancianos y, claro, otroas zapatistas, declaro que el nombre de esta tierra, a la que sus naturales llaman ahora “Europa”, de aquí en adelante se llamará: SLUMIL K´AJXEMK´OP, que quiere decir “Tierra Insumisa”, o “Tierra que no se resigna, que no desmaya”. Y así será conocida por propios y extraños mientras haya aquí alguien que no se rinda, que no se venda y que no claudique.»
Marijose, outroa tojolabal da floresta fronteiriça, Vigo, 22 de junho de 2021.

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Fotografia de Guilhotina.info.

Guerreiros da Luz Dançante

Um dos momentos mais esperados desta viagem foi a contestação de uma data histórica: a suposta conquista do maior império do que é hoje o México celebrar-se-ia no dia 13 de agosto em Madrid. Os preparativos para esse momento começaram três dias antes com assembleias, eventos artísticos, concertos e reuniões para organização e logística. No Centro Social Autogestionado La Tabacalera, o Esquadrão 421, movimentos locais e internacionalistas partilharam o momento de construir alguns materiais simbólicos para a manifestação do grande dia (como aviões de papel, em alusão à Extemporânea, retida no México). Logo no segundo dia, dada a grande afluência, a reunião foi numa Horta Urbana comunitária: um espaço ao ar livre, espaçoso e agradável. Apresentados uns aos outros, contámos como nos organizámos para receber as Zapatistas em cada uma das nossas geografias. Uns organizavam-se por regiões, noutros a gestão era centralizada. Uma das frases que marcou uma das discussões em torno da chamada das Zapatistas àqueles que são «de baixo e à esquerda» foi um desabafo de uma companheira proveniente dos EUA: «porque as pessoas entendem o país como o estado capitalista que é, mas esquecem-se que este tem um outro lado de rebeldia, resistência e insubmissão que precisamos de visibilizar».

Nesse dia, assim como no anterior, as refeições comunitárias aconteceram no espaço 3peces3, gerido assembleariamente, com uma dinâmica programação social, política e cultural. O final da tarde foi passado na periferia de Madrid, ao som do ska-punk e da cumbia de Boikot e Amparanoia, num concerto organizado pela CGT, sindicato de tendência anarco-sindicalista.

O dia 13 de agosto, enquanto data de início da Resistência índigena à colonização, começou na Porta do Sol de Madrid com uma dança-ritual de limpeza e cura. É comum encontrar esta prática no Zócalo, a praça central em frente ao Palácio de Governo e à Sé na Cidade do México: xamãs e curandeiros Astecas reúnem-se diariamente para festejar a defesa heróica das suas resistências ancestrais – já não são guerreiros com armas, são guerreiros da palavra. Desta vez, foi o quilómetro-zero da capital espanhola, um dos principais corações do colonialismo, que foi ocupado por uma impressionante dança ritualística, protagonizada pelo Círculo de Dança Guerreros de Luz Danzantes.

Em Madrid, o Esquadrão 421, depois de navegar os 1,8 quilómetros que separam a Porta do Sol da Praça de Colombo e perante milhares de pessoas, inscreveu na história a sua presença «desde baixo e à esquerda» no mesmo local que constantemente aglomera autoridades e seguidores da ultra-direita conservadora da Espanha. Além deste ser o centro de manifestações nacionalistas, cada pedra que compõe a sua arquitectura reafirma o pensamento monolítico do Cristóvão Colombo como conquistador de uma terra longínqua, símbolo da subtracção de terras, e de Hernán Cortés, orquestrador do extermínio dos povos indígenas e da queda de Tenochtitlan 1, a antiga capital Asteca.

Esta é a primeira etapa do que poderíamos chamar uma contra-pedagogia colonial baseada na invenção de um mito, uma ficção e uma realidade. Qual é a ficção aqui? O monólogo dos colonizadores sobre o extermínio e invisibilização das comunidades indígenas no mundo inteiro.

Qual é o mito aqui? Assistimos à geração de um mito fundacional, de uma epistemologia transoceânica. Pensar no Zapatismo hoje é pensar que os oceanos não são só as veias do extractivismo e da submissão. Pelo contrário, constituem um caminho para a solidariedade internacional e a reactivação das redes de apoio para cada uma das nossas grandes e pequenas lutas:

«Cuéntenos su historia. No importa si es grande o pequeña. Cuéntenos su historia de resistencia, de rebeldía. Sus dolores, sus rabias, sus “no” y sus “sí”. Porque nosotras las comunidades zapatistas hemos venido a escuchar y a aprender la historia que hay en cada habitación, en cada casa, en cada barrio, en cada comunidad, en cada lengua, en cada modo y en cada ni modos. Porque, después de tantos años, hemos aprendido que en cada disidencia, en cada rebeldía, en cada resistencia, hay un grito por la vida. Y, según nosotros los pueblos zapatistas, de eso se trata todo: de la vida.»
do Comunicado lido pelo Esquadrão 421 em Madrid (13/08/2021)

Qual é a realidade aqui? A intervenção de corpo presente do Esquadrão diante de nós. Nesse sentido, a realidade é um lapsus que nos permite teletransportar entre uma multiplicidade de tempos. Tempos existentes através de metáforas, ironias e contestações à história.

«¿no dudó usted también de que los zapatones iban a invadir Europa? ¿Ah, verdad? Todos los seres que aquí se detallan, existen en la realidad. Si alguien no se imagina que esto sea posible, no es culpa de la realidad. Más bien es que le falta imaginación.»
Subcomandante Galeano na comunicado Calamidad Zapatista (2019 – 2020)

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Fotografia de Fernanda Fernández.

Os nossos corpos comuns

A viagem zapatista sublinhou como as transferências entre continentes significam um desafio crítico aos privilégios que um cidadão do Norte global tem na hora de viajar para qualquer lugar do mundo. Apercebemo-nos das dificuldades que enfrentam continuamente os imigrantes ao redor do mundo. O que é vivido pelos imigrantes ilegais é uma realidade que para muitos resulta distante e, não obstante, está mais próxima do que pensamos.

Na manhã de 7 de agosto, os Lisboetas acordaram com a notícia do graffiti feito no Padrão dos Descobrimentos: «Velejando cegamente por dinheiro, a humanidade afunda-se num mar escarlate». Há barcos e barcos, há viagens e viagens. As mercadorias e os grandes cruzeiros transitam pelo mundo sem fronteiras visíveis. E, entretanto, os oceanos são enormes cemitérios. No Mediterrâneo, todos os dias flutuam corpos negros ao largo das costas de diferentes países europeus ou afundam-se ossadas nas profundezas deste líquido salgado onde já repousavam os rastos náufragos da escravidão.

É esta a conexão entre a história passada e o nosso presente, entre o que foi a colonização e o que é hoje a imigração: o sistema de controle da vida especializou-se no uso de corpos aptos para trabalhar, para reproduzir-se e para esterilizar-se, hoje de forma mais sofisticada. A necromáquina aniquila tudo o que considera indesejável. Na realidade que nos apresentam os Zapatistas, as próprias ruas de Chiapas estão a ser inundadas por grandes caravanas de Haitianos, Venezuelanos e Africanos, particularmente Senegaleses, que deambulam pelo sul e centro da América Latina após múltiplas travessias marítimas forçadas. O seu destino é uma grande fronteira cada vez mais impenetrável. Aqueles que conseguem chegar vivos, passam os dias à espera de asilo político nos Estados Unidos da América, país que fecha tal possibilidade com uma infinidade de requisitos jurídicos e a execução de deportações massivas. O papel do México nesta difícil situação é utilitário. O programa Quedate en México obriga os requerentes de asilo a ficar à espera de uma resposta nas cidades fronteiriças, convertendo o país num tampão para os rios de gente que procuram atravessar a fronteira. Tal como o são a Turquia e Marrocos para a Fortaleza Europa.

O passado e o presente colonial e neocolonial europeu reconhece como único cenário possível o descobrimento expansionista. Uma colonização baseada na expropriação e no despojo em nome da propriedade privada e no acto – contínuo até hoje – de sufocar outras formas de pensar e viver. A nossa catástrofe social encontra-se precisamente nas pretensões universalistas fundadas na separabilidade e na excepcionalidade do Ocidente ao declarar-se como executor do tempo e da inventiva do mundo. Dessa maneira aparecem as dicotomias entre sociedades desenvolvidas e subdesenvolvidas, centros e periferias, locais e estrangeiros, nós e os outros. As últimas guerras do Capital Global são, acima de tudo, conflitos locais e regionais que espalham destruição numa disputa eterna pelos recursos naturais. Sem o clima de medo e repulsa do diferente e do estrangeiro, sem a falsa narrativa do «Outro» enquanto perigoso e indigno, seria mais difícil justificar os muros, físicos e legais, e os programas de deportação para conter as centenas de milhares de pessoas que fogem de conflitos armados, no Médio Oriente e no continente africano, que o Ocidente criou ou alimentou. É cada vez mais claro que essa vitória ocidental significa a destruição do meio ambiente, precarização, dor, fome. Numa palavra, morte para todas e todos.

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Fotografia de Guilhotina.info.

Tem início o ano 501

O que está a propor-nos o Zapatismo? A urgência desta Caravana pela Vida é, em primeiro lugar, a reimaginação da história da humanidade, da memória colectiva e da aceitação da diferença étnica e geográfica através de um novo cenário de descobrimentos, pacífico, onde as divisões que outrora foram impostas se dissolvem para expor o inimigo comum: o capitalismo feroz. A resposta à hegemonia da história é feita pelos Zapatistas através desta travessia que inverte os papéis “da conquista de Espanha por mar”, num ato simbólico de descolonização com dois momentos: o desembarque ou ato de possessão, em Vigo, e uma invasão inversa, pacífica e consentida, iniciada de forma discreta pela viagem do Esquadrão 421 através da Península Ibérica, França e Suíça, e consumada de forma retumbante neste 13 de agosto.

«No venimos a traer recetas, a imponer visiones y estrategias, a prometer futuros luminosos e instantáneos, plazas llenas, soluciones inmediatas. Ni venimos a convocarles a uniones maravillosas. Estamos buscando otros rincones y queremos aprender de ellos. (…) Pero no es en actos grandes, sino que en los lugares donde ustedes resisten, se rebelan, luchan. Tal vez a alguien le parezca que nos interesan los grandes actos y el impacto mediático, y así valoren los éxitos y fracasos. Pero nosotros hemos aprendido que las semillas se intercambian, se siembran y crecen en lo cotidiano, en el suelo propio, con los saberes de cada quien.»
do Comunicado lido pelo Esquadrão 421 em Madrid (13/08/2021)

O pronunciamento Zapatista na Praça de Colombo inverte a narrativa linear de submissão e invisibilização. A invenção da história como progresso tornou as sociedades ancestrais antiquadas e, nessa medida, periféricas ao Norte global. A reimaginação do mito e a realidade que o Zapatismo está a imprimir na actualidade através desta viagem perturba esta narrativa ao se deslocarem fisicamente, desde as profundezas do estado de Chiapas, para esse Norte, para o centro, e desafiarem o seu calendário. Em vez do ano 0 do calendário cristão, tomam 1521, o início da resistência indígena, como ponto de referência. Ambas as decisões criam um novo tropos dentro do guião hegemónico instituído pelos conquistadores, mas também pelos maus governos da América Latina que, de tempos em tempos, com manobras mediáticas se mascaram de “progressistas e de esquerda”, ou fomentam um nacionalismo que promove as culturas indígenas, mas apenas enquanto objectos antropológicos e etnográficos. Contra esse guião instituído, os Zapatistas transformam o espaço – a Europa passa a ser o lugar de uma ocupação temporária sem pretender substituir o centro pela periferia – e o tempo – com o seu novo calendário.

Face aos 500 anos da suposta conquista do México, anunciam 501 delegados, que virão em várias vagas para a Europa. E ao contrário de assinalarem os 500 anos com os olhos no passado, prepararam o futuro: o ano 501 em que percorrerão os recantos desta terra insubmissa.

«Quienes formamos el Escuadrón Marítimo Zapatista, y que nos conocen como el Escuadrón 421, hoy estamos frente a ustedes, pero sólo somos el antecedente de un grupo más grande. Hasta 501 delegados. Y somos 501 sólo para demostrarles a los malos gobiernos que vamos delante de ellos. Mientras ellos simulan un festejo falso de 500 años, nosotros, nosotras, nosotroas, vamos ya en lo que sigue: la vida. En el año 501 habremos de recorrer los rincones de esta tierra insumisa.»
do Comunicado lido pelo Esquadrão 421 em Madrid (13/07/20)

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Fotografia de Lorena Salamanca.

Outro paradigma da colonização que os Zapatistas põem na linha de fogo é aquele que tem determinado o lugar dos povos indígenas: ao posicioná-los no lugar da representação e não da presença; no lugar da ancestralidade e não do mundo futuro; limitando-os a certas zonas do planeta. Não obstante, quando a deterioração da sua situação é iminente, não é de admirar que as suas resistências silenciadas procurem altifalantes. O cerco explodiu e até o lugar mais recôndito está em risco. Esta viagem inversa é precisamente a relocalização destas posições. O Esquadrão são sete, porque sete são os pontos cardeais, mas estes pontos são dinâmicos, já não se encontram fixados no lugar em que os geógrafos, os humanistas, e os Estados-Nação decidiram localizá-los. Os mapas são aquelas representações incómodas que há algumas centenas de anos começaram a determinar as fronteiras do mundo que conhecemos hoje, são convenções feitas de esquemas arbitrários que dividem ideologicamente o indivisível, como uma cordilheira ou uma parte do mar. Nos atlas encontramos a sistematização da norma: a esfera torna-se um plano e divide-se em quatro partes; para o Leste há a sua contraparte o Oeste, e para o Norte há o Sul… não terá já chegado a hora de romper com essas estruturas que desenham tão esquematicamente o mundo?

«Dicen que somos ignorantes, retrasados, conservadores, opositores al progreso, pre-modernos, bárbaros, incivilizados, inoportunos e inconvenientes… Tal vez estamos atrasados porque como mujeres que somos o como otroas, podemos salir a pasear sin temor de que nos ataquen, nos violen, nos descuarticen, nos desaparezcan. Tal vez estamos en contra del progreso porque nos oponemos a los megaproyectos que destruyen la naturaleza y nos destruyen como pueblos, y que heredan muerte para las generaciones que siguen. Tal vez estamos en contra de la modernidad porque nos oponemos a un tren, una carretera, una presa, una termoeléctrica, un centro comercial, un aeropuerto, una mina, un depósito de material tóxico, la destrucción de un bosque, la contaminación de ríos y lagunas, el culto a los combustibles fósiles. Tal vez somos atrasados porque honramos a la tierra en lugar de al dinero. Tal vez somos bárbaros porque cultivamos nuestros alimentos. Porque trabajamos para vivir y no para ganar paga. Tal vez somos inoportunos e inconvenientes porque nos gobernamos a nosotros mismos como pueblos que somos. Porque consideramos el trabajo de gobierno como un trabajo más de los comunitarios que habremos de cumplir. Tal vez somos rebeldes porque no nos vendemos, porque no nos rendimos, porque no claudicamos. Tal vez somos todo eso que dicen de nosotros.»
do Comunicado lido pelo Esquadrão 421 em Madrid (13/08/2021)

A mensagem é directa, nem os colonizadores centenários nem os maus governos de hoje os conquistaram. Não nos conquistaram! Apesar da violência infligida sobre os povos indígenas através dos séculos, na reimaginação deste novo cenário de conquista, os seus corpos e a sua viagem são o testemunho vivo desta outra história. Por outra parte, esse grito de rebeldia, impresso na enorme faixa que precedia ao barco zapatista durante a mobilização na capital espanhola, abre interrogações sobre a definição da palavra conquistar.

«Y también decimos que sólo con la destrucción total de ese sistema será posible que cada quien, según su modo, su calendario y su geografía, habrá de levantar otra cosa. No perfecta, pero sí mejor. Y a eso que se construya, a esas nuevas relaciones entre los seres humanos y entre la humanidad y la naturaleza, se le pondrá el nombre que a cada quien le dé la gana. Y sabemos que no será fácil. Que no lo es ya. Y sabemos bien que no podremos solos, cada quien en su parcela combatiendo contra la cabeza de la hidra que le toca padecer, mientras el corazón del monstruo se rehace y crece todavía más.»
do Comunicado lido pelo Esquadrão 421 em Madrid (13/08/2021)

Na contemporaneidade, parece que esta nova definição se enquadra numa porta aberta para as múltiplas resistências e também numa total e global rejeição do sistema moderno e das suas retóricas civilizatórias e extractivistas sobre a terra e sobre os corpos.

Obrigada Esquadrão 421! Temos saudades vossas.

«Porque vivir no es sólo no morir, no es sobrevivir. Vivir como seres humanos es vivir con libertad. Vivir es arte, es ciencia, es alegría, es baile, es lucha. Y claro, vivir también es estar en desacuerdo con una u otra cosa, discutir, debatir, confrontar.»
as palavras de Lupita ressoaram na Praça de Colombo, mas
ressoam acima de tudo nos nossos corações (Madrid, 13/08/2021)

 


Texto de Lorena Salamanca, Raquel Pedro e Francisco Norega
Ilustração de IX


Artigo publicado no JornalMapa, edição #32, Outubro|Dezembro 2021.


#caravanazapatista #esquadrão421 #madrid #travessiazapatista #zapatistas #terrainsubmissa #mapa32

Notas:

  1. Cristóvão Colombo chegou às Américas em 1492, Hernán Cortés às margens de Veracruz (México) em 1519 e o que se dizia ser a queda de Tenochtitlan foi em 1521.

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Jornal Mapa

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