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Lendo: Refugiados: crise ou oportunidade?

Refugiados: crise ou oportunidade?

Refugiados: crise ou oportunidade?


merkel_refugeesEm 2015, todos os estados membro da União Europeia, excepto a Holanda, cortaram nas contribuições para o Programa Alimentar Mundial, fazendo com que as Nações Unidas se tenham visto impedidas de entregar comida a milhares de sírios em campos de refugiados na Jordânia, Líbano, Iraque, Egipto e Turquia. Como exemplo, só na Jordânia, cerca de 229 mil sírios deixaram de receber ajuda alimentar em Setembro. A Áustria, a Estónia, a Grécia, a Hungria, a Eslováquia e Portugal foram os países em que os cortes foram mais drásticos. As contribuições da UE foram de 895 milhões de euros, em 2014, para 675 milhões, este ano, uma descida de 38%. Por outro lado, entre 2007 e 2014, a União Europeia  investiu cerca de 2 mil milhões de euros em muros e barreiras, tecnologia securitária e controlo fronteiriço.

Esta comparação de números serve acima de tudo para que se compreendam as prioridades da política da UE em relação aos refugiados. Uma política que os mais líricos podiam achar que se alteraria agora que os refugiados, muitos deles por terem visto as suas vidas impossibilitadas nesses campos, estão a caminho da Europa. Puro lirismo.

É verdade que a Comissão Europeia disse que dará 200 milhões de euros. Também é verdade que os chefes de estado da UE decidiram forrar o Programa Alimentar Mundial com mais mil milhões. Como verdade é que chegaram a acordo para o acolhimento de 120 mil requerentes de asilo (numa Europa a que chegam, de acordo com as palavras de Donald Tusk 1 , presidente do Conselho, 6 mil pessoas por dia, número que não deverá abrandar nem com a chegada do Inverno 2).

Mas a verdade maior é que o documento 3 que saiu da reunião de líderes de 23 de Setembro é, acima de tudo, um plano de reforço fronteiriço, que pretende impedir pessoas de chegarem às portas da UE, criar uma base de dados dos que o conseguem e deportar os que não tenham “direito a protecção internacional”. Um plano anti-refugiados, com enfoque em mantê-los longe da vista e em impermeabilizar as fronteiras, que não agradou sequer a António Guterres 4. Que visa um controlo total sobre fluxos populacionais de fora da UE. Que abre a porta a navios de guerra, drones, infra-vermelhos, equipamentos de vigilância electrónica e de identificação biométrica, ferramentas essenciais para a construção paulatina duma Europa cada vez mais fortificada.

Quando virmos as lágrimas dos governantes ao falarem de “crise humanitária”, de “humanismo” ou da necessidade de “solidariedade”, lembremo-nos das prioridades plasmadas no documento que os chefes de estado e de governo forjaram neste 23 de Setembro. Para sabermos que são de crocodilo. As lágrimas. E para pensarmos se esta “crise” não será, afinal, uma oportunidade de ouro para um passo maior duma política que sempre pretendeu levantar obstáculos a quem foge de situações de não-vida e transformar a UE numa fortaleza hi-tech.

 

 


Written by

Teófilo Fagundes

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