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Lendo: Os Silva Mendes

Os Silva Mendes

Os Silva Mendes


Quando um condutor com bigode farfalhudo e preto estacionava o bmw junto ao passeio, bateu ligeiramente num volvo. Isto sucedeu, precisamente, no instante em que este último iniciava a marcha. O embate foi insignificante e acidental. O condutor do volvo apressou-se a sair para fora do carro e, com uma voz distinta, tratou o condutor do bmw de «seu grande burro». Permanencendo sentado dentro do bmw, o condutor apelidou o homem do volvo de «estúpido». Este, que estava a examinar o pára-choque do volvo, replicou: «Você é um cabrão de um porco, um grande cretino, um pobre diabo, uma batata podre!». «Grande bode me saiu na rifa!», desabafou o condutor do bmw a erguer-se para fora do automóvel. Depois, com um dos pés dentro do bmw e com o outro em cima do alcatrão, a mão direita a segurar a porta, continuou: «você parece deitar esterco pela boca». «Olha…, olha o porco», exclamou, já a deitar saliva, o homem do volvo, «o senhor é uma sargeta». «O quê? Repita lá isso!», desafiou, sacudindo a porta, o do bmw e afirmou, «você é um saco remeloso, um grande sacana, um réptil que rasteja pelos esgotos com cara de vacão». «Pobre filho de uma grande senhora», retorquiu de imediato o homem do volvo, «não passas de um vadio. Um cabrão de um marginal». «Deves estar sob o efeito do cavalo», afirmou, como quem descobriu a verdade, o homem do bmw. «O quê?», disse, com ar surpreso, o do volvo, «como é que você sabe que montei hoje a cavalo?». «Presunçoso de merda», disse o outro. «Perdāo», interrompeu o condutor do volvo, «deixe que me apresente, ainda não lhe disse… chamo-me Duarte Silva Mendes». «Mas…, que diabo! Eu sou igualmente Silva Mendes, Paulo da Silva Mendes, respondeu o homem do bmw. «Sou o presidente da Liga Amiga do Aperfeiçoamento do Cavalo de Raça Lusitana». «Ah, sim! Então, tem de pertencer, afirmou por sua vez o Duarte Silva Mendes, ao nosso Instituto Para o Enobrecimento da Cultura em Portugal. Eu sou o secretário-geral! E desculpe, não admito que diga não. Caramba! Você é um Silva Mendes! Precisamos de si. Homens honrados, de Civilização.» «Tenho todo o prazer em conhecer», respondeu o Paulo da Silva Mendes, «um homem com a sua envergadura. Eu, a minha esposa e, inclusive, os meus cavalos lusitanos, aceitamos o seu convite». De seguida, os dois homens combinaram a data e a hora em que, acompanhados pelas esposas e pelos cavalos, entrariam juntos no edifício do Instituto Para o Enobrecimento da Cultura em Portugal & Arredores.

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Jornal Mapa

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